quarta-feira, 30 de julho de 2014

...Entrevista ao comandante dos Bombeiros Voluntários da Mealhada...



“Os bombeiros existem para servir a população. Fazemo-lo há 87 anos”

Nuno Antunes João tem quarenta anos, é bombeiro na corporação mealhadense há doze e, desde o início de 2012, desempenhou funções de adjunto de comando, integrando o comando que, em regime de substituição desde 15 de dezembro de 2012, garantiu a operacionalidade do corpo ativo depois do término do mandato do comandante António Lousada. Em março deste ano, os elementos da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Mealhada nomearam-no, por unanimidade, comandante da corporação.

Há quantos anos é bombeiro?
Ingressei na Escola de Aspirantes em março de 2002, portanto sou bombeiro há doze anos.

Esteve sempre na corporação dos Bombeiros Voluntários da Mealhada ou passou por outras?
Tornei-me bombeiro voluntário porque fui incentivado por um conjunto de pessoas da Mealhada. Desde essa altura tenho entendido este serviço de voluntariado como uma espécie de contrato com a população da Mealhada e da área de intervenção deste corpo de bombeiros em particular. Nunca pensei, sequer, em fazê-lo noutro corpo de bombeiros.   
 
A direção da Associação Humanitária apresentou-o como comandante, depois da aprovação por unanimidade, no passado dia 7 de março. O que sentiu com este grande voto de confiança?
Antes de mais quero agradecer à direção a confiança que depositou em mim e espero estar à altura do desafio que me foi proposto. Partilho com os elementos da direção um conjunto de preocupações, espelhadas na carta de missão que elaborámos em conjunto, e tudo farei para as conseguirmos cumprir em equipa e através de uma estreita colaboração.
A primeira sensação que tive quando me foi lançado este desafio não podia deixar de ser a de uma enorme responsabilidade. A nossa associação está a fazer agora oitenta e sete anos. Durante este tempo teve apenas seis comandantes. Suceder a estes homens – Bernardino Felgueiras, Edmundo Machado, Hermenegildo Oliveira, José Felgueiras, José Cunha ou António Lousada –, que pela qualidade do seu trabalho deixaram um corpo ativo com bons níveis de operacionalidade e um grande prestígio e notoriedade, não é uma missão fácil.

Há diferenças entre ser adjunto de comando e tomar totalmente conta do cargo de uma corporação?
Naturalmente, apesar de eu achar que qualquer elemento de comando deve estar preparado para assumir esta responsabilidade. A missão do comandante envolve tarefas que exigem um espírito de entrega muito grande. Há que gerir mulheres e homens que têm as suas particularidades e das quais temos que potenciar o melhor de cada um para o objetivo comum. Ao mesmo tempo existe um conjunto – grande – de formalismos burocráticos que têm de ser cumpridos para que, administrativamente, esteja tudo em ordem. Fazer a ponte entre a direção e o Corpo Ativo é outra tarefa importante, uma vez que é necessário que tudo funcione como um todo, para que cada um cumpra a sua missão, sabendo que uma parte sem a outra, pura e simplesmente, não funciona em pleno.

Como “encontrou”, na transição, o quartel aos níveis de corpo de bombeiros e de meios?
Esta associação, por mérito das sucessivas direções, tem uma boa estabilidade financeira o que permite estar razoavelmente equipada a nível das viaturas. As necessidades neste campo estão identificadas e estamos a trabalhar para as colmatar. Relativamente ao equipamento de proteção individual, tem existido pela parte de quem gere a Associação uma preocupação muito grande a fornecer aos bombeiros o material necessário. É importante referir que na nossa atividade nunca teremos todos os meios necessários à nossa disposição nem a proteção será a suficiente, mas o que temos permite-nos cumprir as nossas responsabilidades com segurança e operacionalidade.
Eu já integrava o comando desde fevereiro de 2012, pelo que não houve nenhuma surpresa na transição para comandante do corpo ativo.

Que balanço faz destes primeiros meses como comandante?
Faço uma avaliação muita positiva. Tenho sentido o apoio e a mobilização dos bombeiros nas transformações que eu acho que são necessárias. Os próprios bombeiros têm participado ativamente nessas mudanças, a sua opinião e também o seu trabalho têm sido fundamentais para evoluirmos. Acredito que só podemos mudar algo se estivermos todos empenhados de uma forma positiva e, neste momento, é a minha convicção que estamos todos empenhados em melhorar procedimentos de forma a aumentarmos ainda mais a nossa operacionalidade. O espírito de equipa é uma ferramenta indispensável que contribui para envolver todos os bombeiros – os do quadro ativo, mas também os dos quadros de Honra e de Reserva – neste projeto. É necessário ter presente que existe sempre margem para evoluirmos.

Estamos em pleno verão, estão assegurados os meios e recursos humanos necessários para os incêndios que, nesta altura, são o que normalmente mais preocupa?
Em termos de dispositivo, dispomos dos mesmos meios do ano passado, e note-se que há um ano conseguimos atingir níveis de operacionalidade fantásticos, graças ao esforço e empenho dos nossos bombeiros. É importante que as pessoas compreendam que nenhuma corporação de bombeiros no país terá os meios suficientes para o combate a um grande incêndio na sua área. Os bombeiros estão equipados para o essencial, sempre que há uma ocorrência de maiores proporções é fundamental que os corpos de bombeiros vizinhos sejam acionados. Por isso é que existe uma coordenação distrital e nacional que respeita, por exemplo, o princípio da triangulação, que funciona para prevenir a falta de meios, na primeira intervenção, dos corpos de bombeiros. Este princípio tem de ser universal e colocado em prática nos incêndios florestais e noutras ocorrências, como por exemplo no dia 15 de julho, com o acidente com matérias perigosas na Autoestrada 1.
Relativamente aos recursos humanos, na nossa corporação, temos poucos bombeiros desempregados e por isso temos que contar com a boa vontade das entidades empregadoras, apesar de, no ano passado, ter acontecido uma situação lamentável com um bombeiro nosso que foi alvo de um processo disciplinar por ter faltado ao trabalho, porque estava no incêndio do Caramulo.
Estaremos sempre prontos para o socorro seja ele qual for.

A renovação do corpo de bombeiros está assegurada?
Essa deve ser a preocupação de qualquer comandante que gere um corpo de bombeiros com quase nove décadas e de uma direção que o gere com vista ao futuro. Nesse sentido, abrimos uma escola de estagiários no ano passado, e temos seis candidatos a bombeiros, em estágio probatório que, no final do ano, se tudo correr bem, serão investidos bombeiros. No próximo mês de outubro abriremos nova escola, com o mesmo objetivo, o de garantir a renovação dos bombeiros, procurando chegar a cada vez mais pessoas que se queiram dedicar a este tipo de voluntariado.
Preocupamo-nos, também, em chegar aos jovens e às crianças – e isso também é uma estratégia de renovação – e nesse sentido teremos a iniciativa “Quartel Aberto”, no dia 25 de julho, inserida nas comemorações do 87.º aniversário.
Por outro lado, acreditamos que a renovação do corpo de bombeiros passa, também, pela reciclagem de conhecimentos de muitos dos nossos operacionais. A renovação não pode ser, apenas, no sentido de termos cada vez mais novos bombeiros e bombeiros novos, mas de termos os nosso operacionais com os conhecimentos e as técnicas mais atualizadas. Felizmente, e depois de uma longa temporada de espera, conseguimos que a Escola Nacional de Bombeiros promovesse um conjunto de formações que em muito beneficiaram a atualização de conhecimentos. Posso garantir que hoje temos um corpo de bombeiros bem formado, com conhecimentos básicos e atuais nas áreas mais fundamentais. 

O que vai ser o quartel aberto a 25 de julho?
Na prática, convidámos as IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) do concelho da Mealhada a visitar o interior do nosso quartel, a vir conhecer os nossos espaços museológicos, a observar as dinâmicas e o funcionamento de um corpo de bombeiros voluntários em serviço. Nesse dia, na véspera do nosso aniversário, teremos, ainda atividades lúdico-pedagógicas para as crianças e para os jovens no sentido de as sensibilizar para o voluntariado nos bombeiros, para a problemática da proteção civil de pessoas e bens, de modo a incutir os valores associados ao imaginário dos bombeiros. Temos já a confirmação da participação de algumas IPSS, o que muito nos alegra.

Que palavra quer deixar à sua corporação, aos sócios e aos elementos dos órgãos sociais?
Acima de tudo, gostaria de aproveitar a oportunidade para deixar uma palavra à população do concelho da Mealhada e especialmente à área de intervenção do nosso corpo de bombeiros: Quero mostrar a minha disponibilidade para o serviço e, acima de tudo, deixar palavras de confiança e de serenidade. Os bombeiros existem para servir a população, na proteção de pessoas e bens, emergência pré-hospitalar e na prestação de cuidados de transporte de doentes. Fazemo-lo há oitenta e sete anos e continuaremos a fazê-lo.
Os bombeiros sabem que contam comigo e procurarei sempre o melhor para eles, criando condições para que a sua missão seja desempenhada de uma forma segura e eficaz. Trabalharei sempre pelo exemplo. Os membros dos órgãos sociais também sabem que o corpo de bombeiros está com eles e que espera que a sua vitalidade, dinamismo e juventude possam engrandecer a instituição e a sua ação diária. 
Acredito, sinceramente que sozinhos seremos o que pudermos, juntos seremos o que quisermos!

Entrevista de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 924, de 23 de julho de 2014.
Fotografia de Inês Rama.

Sem comentários: