segunda-feira, 30 de agosto de 2021

...avô...

Maria Miguel e avô "Kingo"
 

Faleceu hoje uma pessoa muito importante na minha vida. Um agregador de consensos e de vontades para que tudo corresse sempre bem. Esteve para mim, sempre, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Formamos uma verdadeira equipa!

A nossa história de avô e neta não começou da maneira tradicional, a dita de sangue, mas tornou-se a mais forte de todas: a do amor. A minha vida foi muito mais rica por o ter sempre ao meu lado e por um dia se ter apaixonado e casado com a minha rica avó.

Recordo as nossas viagens na Toyota Hiace em que nem a falta de dentes, do alto dos meus seis anos, me fazia calar a boquinha; recordo os almoços, jantares e Natais em família; as brincadeiras com os tios emprestados; as férias nas Termas de Monfortinho; o orgulho do avô em me ver na Queima das Fitas e licenciada; e as visitas diárias ao hospital quando o destino me pregou uma partida.

Ao nosso núcleo duro - avô, avó, mãe e eu - juntaram-se o Vítor e o Nuno e, mais tarde, uma Maria Miguel. Com ela vieram os "religiosos" almoços de sábado que se estendiam pelas tardes de Inverno, com a pequenita a saltar para as suas cavalitas e a chateá-lo para fazerem puzzles e sopa de flores. No verão, bisavô e bisneta apanhavam morangos e regavam o jardim. No ano passado houve até direito a uma piscina. A Maria salpicava-o todo, enquanto o avô sentado numa cadeira, com a bengala a mexer na água, permanecia ali o tempo que fosse preciso, preparado para a birra sempre que era hora de sair da banheira gigante.

A vida mudou muito do verão de 2020 até então. A idade não perdoou e não nos poupou de nada. O "mulherio" uniu-se, fortificou e em resposta ao que a vida e a doença nos ia trazendo, dia após dia, respondemos com amor. Era amor quando a avó lhe dava o comer na boca e o obrigava a tomar os medicamentos, era amor quando a mãe pegava em si ao colo para a cadeira de rodas só para o avô ver o sol da janela e lhe mudava a fralda, era amor a Maria dar-lhe água na boca e deitar-se na cama articulada consigo com as grades para cima :) e era amor todas as desculpas e desvios que eu arranjava para passar no Pego a toda a hora e instante, com sacadas de medicação e recados de todos os médicos e mais algum.

Quem não o conheceu, não sabe o que perdeu. Um homem bom, gentil, com uma educação fora de série. Um homem que aos 80 anos ainda tinha em mãos a gestão de um hotel e aos 90 frequentava uma Universidade Sénior. Um Senhor que fez questão de juntar sempre a família nas datas importantes e de presentear a esposa no Dia dos Namorados, precisamente o dia (há muitos anos) em que oficializaram a caminhada do vosso amor.

O avô deixa-me um vazio na alma, no coração e nos meus dias. Não tenho remédio se não desejar-lhe o eterno descanso, merecido, com a certeza de que viverá no pensamento das mulheres da sua vida até ao último dia do nosso suspiro.

A minha avó perdeu o amor da sua vida, a minha mãe perdeu um grandioso pai, eu perdi um avô daqueles a séria e a Maria Miguel perdeu o melhor companheiro, paciente, de todas as suas brincadeiras.

Se há pessoa que eu gostava de voltar a encontrar é o avô. Não sei se será possível, mas se for... até um dia, meu querido avô!


Sofia