domingo, 27 de abril de 2014

...contar a história de uma neta com o seu avô...




Cumpriu-se parte da “lei natural da vida”… a de uma neta fazer o funeral do seu avô…
E por mais cruel e duro que nos possamos sentir, esta é a lei natural da vida!
Já não é tão natural o de acompanharmos o sofrimento da sua luta pela sobrevivência, mas também acontece… e aconteceu ao meu avô Basílio.
Lutou pela vida durante meses, sempre, sempre em sofrimento! Mas foi vencido e julgamos nós, porque temos sempre que arranjar algo que nos faça sentir mais “aliviados”, de que foi o melhor!

Ficam as memórias…

Nos últimos dias, reavivei na minha memória tudo o que passei com o meu avô nesta vida… e foi tanto…
Não me lembro do meu batizado, obviamente, mas sempre vi fotografias… No funeral do meu avô dizia a minha madrinha Nela: “Tiveste um batizado que parecia um casamento!”.
Foi à grande, como em tudo o que o meu avô fazia. Se era para fazer, tinha que ser grande, de qualidade e bem feito! Foi sempre assim…

Conheci França de uma ponta à outra… passei verões inteiros em Paris… Muito passeie com o meu avô Basílio… Num fim-de-semana até fomos de TGV passar um dia a Londres… que grandes recordações…

E está tudo registrado… tenho filmagens minhas desde que nasci… vídeos inteiros da Sofia na piscina, da Sofia em Paris, da Sofia no Carnaval da Mealhada, da Sofia na Eurodisney, da Sofia a comer, da Sofia no sofá, da Sofia em todo o lado…
 
Tanto que o meu avô trabalhou para ter o que teve … Diz-me a minha avó e eu concordo: “O Basílio teve tudo o que quis!”. E teve mesmo…. trabalhou muito, mas conseguiu ter tudo o que quis…

Faltou-lhe apenas a saúde… e até nisso chegámos a partilhar “as coisas da vida”.
Quando fiquei doente quem me acompanhou na “descoberta” da minha doença (tirando a minha rica mãezinha) foi o meu avô… acompanhou-me nas consultas, nas análises e chegou-me a levar à porta de um exame na faculdade, crucial para que eu acabasse o meu curso… que ele tanto orgulha tinha, quando eu quase nem conseguia andar!
Ainda nem um ano fez que nos encontrámos nas análises dos HUC… o meu avô foi às 7 horas e tirou senha para os dois… eu dormi mais um bocado e quando lá cheguei, mais tarde, estava a minha senha guardada nos seus papéis, sempre muito organizados…
Nessa altura, estava o meu avô a ficar bastante doente…

Em poucos meses a doença provocou-lhe vários estados de espirito… revolta, força, aceitação e desespero…
Partiu em paz com o conhecimento de que teve sempre muita gente à sua volta a dar-lhe força.

Não concordei com o meu avô Basílio em todas as decisões que tomou na vida e ele, certamente, que não concordou com muitas das minhas… mas o balanço da relação que faço com este Homem é muito positiva…
Eu gostava que tivesse tido um fim de vida mais bonito, mas eu não escolho e como ouvi tanto nos últimos dias, parece que “é Deus que escolhe assim”… eu não sei, mas também não quero pensar muito nisso…

Bom… e apesar de ser a “lei natural da vida”, eu nunca imaginei (estas coisas nunca se pensam, eu acho), que um dia ia ter que escrever o texto do falecimento do meu avô na página da necrologia do Jornal da Mealhada…
Mas vou… e tudo porque… é, simplesmente, a vida! Dói, mas é “a lei natural da vida!”.

1 comentário:

Patrícia disse...

Miga, admirável e ternurento tudo o que escreveste sobre o teu avô. Que descanse em paz...