sexta-feira, 28 de março de 2014

...Prejuízo no Carnaval da Mealhada “apela” para que evento seja repensado...



As contas ainda não estão concluídas, nem são oficiais, mas Fernando Saldanha, presidente da direção da Associação de Carnaval da Bairrada (ACB), estima que, em 2014, o Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada tenha dado um prejuízo no valor de “quarenta mil euros”. O cancelamento do desfile no Domingo Gordo, o mau tempo no de terça-feira, em que esteve constantemente a chover, e a diminuição do preço do bilhete no corso do dia 9 de março, já fora de época, estão na base deste prejuízo, segundo o dirigente.
Apesar da chuva, no desfile de terça-feira, dia 4 de março, estiveram no Sambódromo Luís Marques, na cidade da Mealhada, duas mil e quinhentas pessoas (o preço de cada bilhete era cinco euros). Já uma semana depois, fora de época, no domingo, dia 9, com o tempo sereno e o preço do bilhete a três euros, a organização “esperava mais do que três mil e quinhentas entradas”.
Até ao momento de dados financeiros oficiais, o Jornal da Mealhada sabe que Saldanha previa um orçamento de cento e vinte mil euros para o evento, informação dada na conferência de imprensa realizada a 31 de janeiro, que a Câmara Municipal da Mealhada comparticipou com oitenta e quatro mil euros e que, para já, há a forte probabilidade de o evento ter dado um prejuízo, que ronda os quarenta mil euros.
Acerca das falhas que contribuem para o evento, Saldanha remete para “o mau tempo” e Rui Marqueiro, presidente da Câmara da Mealhada, a maior patrocinadora do Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada, não quis comentar e deixa no ar que “o evento tem que ser, no futuro, repensado”.
Para João Peres, presidente da mesa da assembleia-geral da ACB, “o atual modelo de gestão do Carnaval está ultrapassado e tem mesmo que ser reestruturado”. “Isto é mais do mesmo. Trata-se do evento mais reconhecido da Mealhada, mas também o que consome mais dinheiros públicos da Câmara Municipal e há que ter cuidado na clareza do seu retorno. O modelo está esgotado e a autarquia deve ter uma palavra a dizer no investimento e gestão do Carnaval, uma vez que é o seu maior patrocinador”, declara João Peres, garantindo: “O Carnaval deve associar-se a outros eventos com aproveitamento de recursos”. “Justifica-se haver uma ACB, quando as escolas de samba também estão transformadas em associações e desenvolvem as suas atividades anualmente?”, pergunta retoricamente.

“Real Imperatriz é uma escola muito incerta”

O presidente da assembleia-geral da ACB não deixa, contudo, de elogiar o evento de 2014. “Gostei muito das escolas de samba”, elogia João Peres, que enfatiza a situação do Grupo Recreativo Escola de Samba Real Imperatriz, de Casal Comba, que, por não ter cumprido os requisitos “impostos” pela ACB, apenas pôde desfilar como grupo de animação, intitulado de Turma do Rambuque. “Congratulo-me com o comportamento e dignidade com que a Real Imperatriz se apresentou no desfile. Veio demonstrar que tem muito a dar a este Carnaval e ao seu concelho, considerando todas as adversidades porque passou”. Mas para Saldanha “as regras são para se cumprir”. “Não cumpriu com absolutamente nada do que pedimos. Nem com as datas de projetos dos carros e nem dos fatos, logo apenas os aceitámos como grupo de animação”, continua Saldanha, que ainda acrescenta: “Porque é que todas as escolas de samba cumprem e aquela não? Para além disso, um ano apetece-lhes ir e outro já não. É uma escola muito incerta”.
Já sobre as restantes três escolas de samba (Amigos da Tijuca, Batuque e Sócios da Mangueira, João Peres tece muitos elogios. “Proporcionaram um grande espetáculo. As pessoas que se deslocaram à Mealhada certamente saíram satisfeitas. Devemos apoiá-las e acarinhá-las ainda mais, pois têm bastante potencial”, afirma João Peres, sugerindo que, no futuro, “se deve procurar que o corso seja composto por grupos de associações e entidades concelhias tentando evitar que venham de outros lados”.

“ACB é demasiadamente subsídio dependente”

Acerca do Carnaval da Mealhada ter “visto”, em 2014, dois concursos - um da ACB, pela primeira vez (que poucos tiveram conhecimento porque a informação nem na conferência de imprensa foi transmitida), e a oitava edição do do Jornal da Mealhada -, João Peres garante: “A ACB deve fazer coisas novas e não tentar desfazer as que já estão feitas. Entendo que o concurso é uma mais valia para o Carnaval, mas deve ser feita por entidades independentes que possam sim contar com o apoio dos promotores do Carnaval. A ACB é demasiadamente subsídio dependente e eu não lhe reconheço autonomia, capacidade e nem humildade suficientes, para pôr em causa uma instituição concelhia, de reconhecido mérito, como a Santa Casa da Misericórdia da Mealhada (SCMM)”, proprietária do Jornal da Mealhada”. “Felicito-o por ter organizado mais uma edição do seu concurso, agradeço aos jurados pelo seu empenhamento, dedicação e competência e dou os parabéns ao Batuque por se ter sagrado bicampeão”, acrescenta.
E vai mais longe. “É inadmissível que a SCMM, para prestar mais este serviço à sociedade e à ‘terra’, tenha sido ‘obrigada’ a adquirir trinta bilhetes, a cinco euros cada (quando as entradas foram a três no corso do dia 9), tendo em conta que, desde sempre, tem colaborado voluntariamente e gratuitamente em tudo o que lhe é solicitado para com o Carnaval, nomeadamente, com a cedência da Unidade Móvel de Saúde e o seu pessoal, e prevenção e reforço nas Urgências do Hospital da Misericórdia da Mealhada, sempre que o evento se realiza”, lamenta o antigo presidente da direção e fundador da ACB.
Outra das preocupações de João Peres passa pelo facto de, no próximo mês de maio, a ACB ir a votos. “Em maio há eleições e preocupa-me bastante a continuidade do Carnaval e da ACB, face aos prejuízos previstos. Duvido que mais uma vez apareça alguém para assumir o seu comendo e reconheço que é uma grande responsabilidade arrancar com quarenta mil euros de saldo negativo e sem soluções para a recuperação”.
O presidente da assembleia-geral admite que a realidade mais próxima seja “a solicitação ao senhor Saldanha e sua equipa para que continuem à frente da ACB”. “A viabilidade financeira e de recuperação do saldo negativo é quase impossível mantendo o mesmo nível de qualidade do corso. Mesmo com chuva, algo está mal explicado”, garante João Peres, que apela a que se façam contas.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 915, de 19 de março de 2014.
Fotografia de Rodrigo Mortágua

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