domingo, 9 de setembro de 2012

...Hipismo...



“Nós aqui temos as condições necessárias à prática e ao ensino equestre”, afirmaram Ricardo e Nuno Santos

Ricardo Santos, de vinte e seis anos de idade, e Nuno Santos, de dezanove, filhos de João Santos, residem na Póvoa da Mealhada, local onde têm uma quinta e onde promovem a criação e a preparação de cavalos com vista à participação em concursos de hipismo. No fim-de-semana de 30 de Maio e 1 de Junho, Ricardo Santos ficou em primeiro lugar no Concurso de Saltos Nacionais – B, prova que se realizou no Centro Hípico de Coimbra, como noticiámos na edição anterior. Esta semana a repórter do Jornal da Mealhada foi conhecer os mealhadenses “amantes” da modalidade de hipismo e a Quinta dos Canedos, onde treinam diariamente.
“O meu pai comprou uma égua quando eu tinha oito anos, comecei a gostar da modalidade e comecei a treinar em Águeda. Depois passei para a Quinta da Graciosa, em Anadia, onde fiz a minha formação, durante cerca de quatro anos”, começou por dizer Ricardo Santos que incentivou o irmão a praticar a modalidade desde os sete anos de idade.
A Quinta dos Canedos foi criada por João Santos há cerca de doze anos. “No início, apenas tínhamos algumas boxes para alguns cavalos e também só tínhamos um picadeiro. Hoje, temos um maior número de boxes e alguns picadeiros para os cavalos poderem treinar e andar à vontade”, explicou Ricardo Santos. O irmão, Nuno Santos acrescentou: “Os cavalos só podem ser montados aos quatro anos de idade e até essa altura, somos nós que elaboramos um conjunto de tarefas que visam, além de toda a domesticação do animal, também a preparação para a fase seguinte. Quando se têm animais deste tipo, que realizam um trabalho contínuo e de longa duração, a responsabilidade é grande. Temos que vir aqui duas ou mais vezes por dia, pois nunca é demais um olhar atento sobre eles”.
A média de vida de um cavalo é de vinte anos. Sobre isto, Nuno Santos explicou: “Quando os cavalos ou éguas nascem estão, em média, meio ano com a mãe. Até aos quatro anos de idade, realizam um trabalho que visa o fortalecimento muscular para a partir daqui começarem a realizar um trabalho mais específico que os leva a competir”.
Sobre os maiores cuidados a ter com animais deste porte, Ricardo Santos afirmou: “Alguns cavalos sofrem frequentemente de cólicas intestinais, que é um dos principais factores de mortalidade, por isso temos que estar sempre em alerta para nos apercebermos quando isso acontece. Têm que estar sempre limpos e secos, assim como as boxes onde eles estão”. Sobre a alimentação diária de um cavalo, Nuno Santos garantiu: “Por norma a alimentação está proporcionalmente ligada à carga de trabalho realizada por eles. Contudo, em média, cada cavalo come cerca de dois a três quilos de ração e meio fardo de palha, por dia”.
Calças brancas, camisa e gravata brancas, casaco vermelho ou preto ou azul, botas pretas e a protecção na cabeça, denominada toque, são a indumentária que os cavaleiros usam nos concursos da modalidade. Sobre os concursos, Nuno Santos afirmou: “A época dos concursos começa em Janeiro e termina em Outubro. Para se poder participar num concurso nacional, precisamos de fazer um teste que se chama “Cela 4”. Tinha onze anos quando participei, pela primeira vez, num concurso. Em média participamos sempre em um ou dois concursos, por mês”. Ricardo Santos acrescentou: “Temos aqui, na nossa quinta, um cavalo chamado Lince que, em 1997, foi o cavalo lusitano que obteve os melhores resultados na modalidade de Saltos de Obstáculos. Daí surgiu o convite para o apresentarmos à comunidade equestre numa feira realizada em Vila Franca de Xira, onde se apresentavam os melhores cavalos desse ano. Este cavalo é, também, um dos reprodutores com mais êxito, pois os seus filhos apresentam muitas apetências para os Saltos de Obstáculos”.
Questionados sobre a paixão que têm pela modalidade e os animais que cuidam na quinta, os jovens cavaleiros afirmaram: “Já não nos imaginamos sem contactar diariamente com estes animais. À medida que o tempo vai passando vamos criando objectivos e querendo sempre melhor. Isto é um vício!”. Sobre se a quinta recebe regularmente visitas de outros cavaleiros ou pessoas em geral, Ricardo Santos explicou: “Os concursos são a montra para fazermos conhecimentos nesta modalidade e, normalmente, são os participantes nesses concursos que nos visitam. Contudo, isto está aberto a todas as pessoas. Nunca fechámos a porta a ninguém. Também já houve algumas visitas de alunos da Escola Profissional Vasconcellos Lebre e também de participantes nas Férias Desportivas”.
A Quinta dos Canedos pode vir a ser uma escola de hipismo, perguntámos. “Nós aqui temos as condições necessárias à prática e ao ensino equestre. Se as pessoas procurarem, isto pode, realmente, vir a ser uma escola de hipismo, mas tinha que haver essa procura”, respondeu Ricardo Santos. O cavaleiro acrescentou ainda: “Houve uma altura em que me afastei um pouco da modalidade para estudar fora, mas quando vim para Coimbra consegui conciliar a minha actividade com os estudos, o que sempre foi a minha prioridade. Estou a terminar a minha formação académica em Educação Física e espero conseguir emprego na minha área, contudo não afasto a possibilidade de colocar como prioritária a actividade do hipismo”.
Questionados sobre os objectivos que têm para o futuro nesta modalidade, Ricardo Santos afirmou: “Tentar evoluir é o objectivo primordial. Isto não é um desporto fácil porque está sempre em causa a conjugação de dois seres vivos, cavalo e cavaleiro. Eu posso estar muito bem, mas se o cavalo não estiver, a prova não vai correr tão bem, obviamente. Mas também com a convivência que existe entre os cavalos e os seus criadores, chegamos a um ponto que já conseguimos perceber se um cavalo está bem ou não”. Nuno Santos concluiu: “Uma das nossas maiores qualidades é a persistência. Trabalhamos muito em conjunto e ajudamos a perceber os erros um do outro para ser mais fácil corrigi-los”.        

  Mónica Sofia Lopes


Trabalho publicado na edição impressa do Jornal da Mealhada de 11 de junho de 2008.

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