quinta-feira, 26 de novembro de 2015

...mealhadenses pelo mundo…

Sandro Alves “trocou” atuação num bar na Rue Charonne para ficar em casa

Os ataques terroristas aconteceram em França, há quase duas semanas, mas depressa se alastraram à Europa, a todo o mundo…. O sentimento é unânime. Medo, tristeza e impotência por nada se conseguir fazer. Bem perto dos locais da tragédia reside Sandro Alves, natural da Mealhada, e que nos habituamos a ver noticiado pelos seus feitos profissionais que, ao longo da vida, foi conseguindo. Hoje, porém, o trabalho que o Jornal da Mealhada apresenta é outro… O jovem, de trinta e seis anos, residente em Paris há muitos anos, conta-nos o que tem vivido e o que sentiu, por na noite do dia 13 de novembro não estar a “tocar” num bar na Rue Charonne (a cem metros de um dos locais da tragédia), como costuma fazer todas as sextas-feiras.
O provérbio tradicional diz que “há dias de sorte” quando as tragédias não atingem os mais próximos. Talvez Sandro Alves diga que “há noites de sorte”… “Por acaso, na noite de sexta-feira 13 encontrava-me em casa. Normalmente às sextas-feiras toco com um grupo de amigos precisamente num bar na Rue Charonne (a cem metros de um dos locais da tragédia), mas nessa sexta fiquei em casa”, começou por contar-nos Sandro Alves.
Os momentos após os ataques “foram de terror, pesadelo, dor, angústia e incerteza”. “Acho que, como para as outras pessoas, era completamente difícil acreditar no que se estava a passar. Isto acontece nos filmes, não deveria acontecer assim na realidade numa cidade destas….”, descreve Sandro Alves, que continua: “No sábado quando acordei pensei que se tratava de algo saído de um pesadelo. Pouca circulação se via nas ruas, algo que é completamente anormal, excepto nos locais de foco dos atentados onde as pessoas demonstravam plena curiosidade de vir aos mesmos após os atentados e de aí homenagear as vítimas que horas antes tinham perdido as suas vidas. Em geral, as pessoas estavam e estão cabisbaixas, olhando com desconfiança à sua volta. Então no metro é a desconfiança total…”.
E com o passar dos dias e dos acontecimentos, o sentimento atenua-se. “Neste momento tenho a sensação de ver menos pessoas nas esplanadas e cafés típicos de Paris. Há menos pessoas a passear e sente-se um clima de insegurança e de tristeza que paira no ar. Há muito receio de sair. Contudo, há também uma grande onda de solidariedade de todos os parisienses em relação a esta onda de terror que traumatizou a cidade”, explica o jovem mealhadense, que enfatiza: “Cada vez que se ouve uma sirene ou um carro da polícia ou ambulância em stress pensa-se imediatamente que tudo recomeçou ou que está em vias de recomeçar. Há esse receio!”.
Apesar de fazer “a vida normal”, Sandro Alves toma as suas precauções: “Tento evitar por exemplo o metro e andar à superfície, pois no metro há multidões que poderão ser alvo fácil e gerar onda de pânico”. “No entanto, a segurança está bem reforçada, há militares por todo o lado, mesmo que saibamos que tudo possa recomeçar do modo mais inesperado possível. No instituto onde trabalho temos à entrada três ou quatro militares armados dos pés à cabeça, sendo que quando há mochilas ou sacos, é-se revistado imediatamente … A nível pessoal quando tenho vontade de ir a algum lado, vou. Tento não pensar muito se será, ou não, perigoso”, confessa.
Apesar de viver perto do Bataclan, situado em Oberkampf, e da rue Charonne, situada na Bastille, Sandro Alves afirma: “As coisas podem acontecer em qualquer lado, pois Paris está sempre cheia de pessoas nas ruas e o foco principal dos terroristas é o de atingir sempre o maior número de vítimas possível”.
Sandro Alves, de trinta e seis anos e que esteve sempre ligado ao Carnaval Luso Brasileiro da Bairrada enquanto músico, trabalha em França há cerca de uma década, num instituto de investigação, no qual é responsável científico de projetos de terapia genética para tratamento de doenças neurodegenerativas. Neste momento, é ainda o responsável pelo desenvolvimento de toda a parte pré-clínica de um medicamento para tratamento da doença de Alzheimer (teste em modelos animais, incluindo primatas).
Questionado se os últimos acontecimentos o farão “abandonar” França, o jovem é peremtório. “Poderei abandonar a França por outros motivos, pela razão de já estar aqui há alguns anos e querer experimentar outros ares e outros climas. Sinceramente, estes atentados não me farão sequer pensar sair daqui pois a intenção desta onda terrorista é causar o medo com ataques cobardes a civis inocentes que não se podem defender. Se isso se traduzisse numa mudança de vida quererá dizer que, de certa forma, eles estão a conseguir os seus intentos”, concluiu Sandro Alves ao Jornal da Mealhada.


Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 959, de 25 de novembro de 2015.

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