terça-feira, 14 de outubro de 2014

...Em Portugal, as taxas de doenças mentais são altas, mas baixas em suicídios...

As décimas Jornadas sobre Comportamentos Suicidários realizaram-se, no Grande Hotel do Luso, de 25 a 27 de setembro. Na ocasião, e em conversa com Álvaro de Carvalho, diretor do Programa Nacional de Saúde Mental na Direção Geral de Saúde, o Jornal da Mealhada ficou a saber que “Portugal tem das taxas mais elevadas de patologias associadas à saúde mental”.
Durante três dias, o “debate”, na vila do Luso, centrou-se nos “comportamentos suicidários”. Uma iniciativa à qual disseram “sim” centenas de médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, sociólogos, professores e estudantes da área, provenientes de vários pontos do país.
Um estudo internacional, cujo relatório foi divulgado há um ano, e que engloba trinta e quatro países, de todos os continentes, garante que “Portugal tem a segunda taxa mais elevada de doentes com patologias mentais, cerca de vinte e três por cento, sendo apenas ultrapassada pela República da Irlanda”.
E quais são as principais? “Ansiedade, controlo dos impulsos, fobias sociais e depressão”, respondeu-nos Álvaro de Carvalho que, contudo, garante que são patologias que “trazem pouca incapacidade para o dia à dia”.
Para além das taxas pouco animadoras para Portugal, Álvaro de Carvalho ainda viu o “inesperado” acontecer neste relatório, pois os números portugueses estão distantes dos da Espanha (que tem três vezes menos) e de Itália. “Julguei que pelas diversas parecenças, tais como, geográficas, climáticas e sociais pudéssemos estar todos no mesmo patamar”, lamenta o médico, sobre o estudo, que foi cordenado por uma equipa das Ciências Médicas da Universidade de Lisboa.
Mas apesar dos números, “a taxa oficial de suicídio em Portugal não é assim tão alta. Por ano, acontecem dez casos por cada cem mil habitantes”. Álvaro de Carvalho explica, contudo, que é preocupante a comparação entre o suicídio e os acidentes de viação, ambos considerados causas de morte previsível. “As percentagens mostram-nos que, de há quatro anos para cá, os números sobem muito no suicídio, se compararmos com os acidentes”, garante o médico, que refere a importância do Plano Nacional de Prevenção de Suicídio já em vigor.
O factor comum em praticamente todos os suicídios mostra que os doentes procuraram, meses antes, um clínico geral. “Isto leva-nos a ter certeza de que se melhorarmos os cuidados de saúde primários, podemos reduzir o número de pessoas que se podem suicidar. Conhecendo a realidade podemos desenvolver estratégias”, afirma Álvaro de Carvalho, que enfatiza que este tipo de grupo se centra “em idosos, que vivem sozinhos e sofrem de doenças crónicas”.

E se por todo o mundo, os períodos de crise socioeconómicos fazem crescer a taxa de suicídios, em Portugal esse dado não faz quase diferença: “Ou porque a maior parte das pessoas tem um grande apoio familiar ou porque somos um povo resiliente (resistente) ou por diversas outras coisas…”.

Noticia de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 929, de 1 de outubro de 2014.

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