segunda-feira, 16 de setembro de 2013

...Bombeiros da Mealhada e Pampilhosa “dão a vida pela vida”...



Nas últimas semanas, as corporações de bombeiros, a nível nacional, fizeram noticia em toda a comunicação social, devido ao empenho que tiveram em combater os fogos florestais e pelo falecimento de oito bombeiros (número atualizado em 8 de setembro) ao serviço voluntário nos incêndios. Do “nosso” concelho, bombeiros das corporações da Mealhada e da Pampilhosa fizeram parte das centenas de homens e mulheres que viveram dias de intensa dedicação, especialmente, no incêndio do Caramulo, o mais grave até agora neste verão e onde houve sessenta por cento de área ardida. Fomos conhecer a voz, na primeira pessoa, de quem “dá a vida pela vida”.


Dedicação, esforço, altruísmo e muito espírito de voluntariado foi o que moveu os bombeiros do concelho da Mealhada a darem tudo pelo combate ao fogo na Serra do Caramulo. “A Pampilhosa esteve presente de 12 a 28 de agosto, mas propriamente nas localidades de Sernancelhe, Silvares, Feitalinho e Guardão (distrito de Viseu). Nestes teatros de operações estiverem um auto comando, um carro de combate a incêndios com uma equipa de cinco elementos e um autotanque, com uma equipa de dois elementos, sendo os elementos das equipas substituídos a cada vinte e quatro horas”, começou por dizer Ana Paula Ramos, comandante dos Bombeiros da Pampilhosa, que acrescentou: “É de salientar que quando este incêndio da Serra do Caramulo invadiu o distrito de Aveiro, mais propriamente o concelho de Águeda, os Bombeiros da Pampilhosa estiveram presentes com quatro carros, sendo um deles de combate a incêndios florestais com uma equipa de cinco elementos, um autotanque com uma equipa de dois elementos, um carro de combate a incêndios urbanos (para fazer prevenção a habitações existentes em diversas aldeias na serra) com uma equipa de cinco elementos e o carro de comando com a comandante da Pampilhosa”.

Nuno Antunes João, adjunto de comando dos Bombeiros da Mealhada, também declarou, ao Jornal da Mealhada, que chegou a ter “dezanove homens e quatro viaturas, acompanhados pelo adjunto e segundo comandante, no incêndio do Caramulo, durante duas semanas seguidas em agosto, que abrangeu os distritos de Aveiro e Viseu. É muito para uma corporação. Estivemos empenhados nos principais incêndios que houve no país e os nossos bombeiros tiveram sempre uma resposta positiva”.



Concelho da Mealhada teve sempre os meios garantidos



Apesar disto, Nuno João garante: “Nunca descurámos a nossa zona de intervenção. Tivemos sempre cá os meios necessários no caso de serem precisos”. Também Ana Paula Ramos defendeu esta ideia, que causou algumas dúvidas na população nos últimos dias. “Apesar das solicitações ao corpo de Bombeiros da Pampilhosa ter sido elevada, quero esclarecer que nunca foi desguarnecida a proteção e socorro na nossa área de atuação, que é da minha inteira responsabilidade, tendo sido assegurado todas as ocorrências por elementos que voluntariamente se deslocaram para o quartel, sem ser necessário tocar a sirene ou serem chamados através de telemóvel, estando prontos a responder a qualquer ocorrência que fosse necessária, sendo fiéis à nossa população e estando sempre prontos a intervir em qualquer situação”, explicou.

Para o adjunto de comando da corporação da Mealhada é necessário fazer-se um agradecimento “às entidades patronais que dispensaram os seus funcionários nestes dias para servirem a população mais do que uma vez. Foi um grande apoio”.

A decorrer a Fase Charlie até dia 30 de setembro (com inicio a 1 de julho), a fase de maior alerta das corporações na altura de verão, que balanço já se pode fazer? A esta questão a comandante da corporação da Pampilhosa, respondeu: “Que não há Bombeiros como os Bombeiros portugueses”. E continuou: “Ainda é cedo para fazer o balanço desta fase. Os incêndios florestais têm assumido em Portugal uma proporção devastadora, contudo é necessário valorizar o trabalho de risco dos nossos bombeiros que estiveram presentes em teatros de operações em condições extremamente adversas do ponto de vista climatérico e emocional. Foram estes homens/mulheres, que impediram que muitas das populações perdessem irremediavelmente tudo o que tinham, que viveram emoções fortes, continuando a fazer frente ao fogo mesmo com as lágrimas nos olhos e com o coração apertado, depois de terem recebido a notícia da morte dos colegas que se encontravam no mesmo teatro de operações e a lutar pela mesma causa. Mesmo com toda esta mistura de sentimentos não desistiram, sabendo assim, continuar a sua missão com profissionalismo, quando era os sentimentos de perda que falavam mais alto do que todo o resto…. Aos meus bombeiros um obrigado”.

E durante todas estas semanas, as corporações não tiveram só cuidado com os seus homens, mas também com as viaturas que estiveram ao serviço e que tão necessárias são. “Houve viaturas nossas que estiveram durante uma semana ao serviço e isso trouxe-lhes um grande desgaste”, continuou Nuno João. “É lógico que depois de um mês de incêndios intenso o desgaste do pessoal e veículos é notório. Os carros, também eles vão acusando algum desgaste o que leva a que tenha de haver uma manutenção/reparação extra, a qual já acende um valor elevado nesta época florestal. Quero salientar e demonstrar o meu reconhecimento com a direção da corporação da Pampilhosa que tudo fez para que os nossos carros ficassem operacionais num curto espaço de tempo, para que a nossa missão fosse bem sucedida estando aptos a responder com prontidão a todas as ocorrências que chegaram até nós”, acrescentou Ana Paula Ramos.



“As mortes são revoltantes, mas não nos desmotivam”



E como se sentem os bombeiros que combatem intensamente as chamas e ainda têm que gerir os sentimentos pelo facto de verem colegas a morrer? Falámos com quatro bombeiros da Mealhada e Pampilhosa que estiveram em serviço voluntário no incêndio do Caramulo. “Há uma determinada altura em que sentimos cansaço, mas temos sempre vontade de socorrer e estamos sempre disponíveis para auxiliar”, afirmou Gonçalo Jorge, de vinte e três anos, desempregado, bombeiro na Mealhada há cinco anos, que acrescentou: “As mortes são revoltantes, mas não nos desmotivam”. “Temos que seguir em frente… alguém tem que fazer este serviço e nós escolhemos fazê-lo”, acrescentou António Almeida, de cinquenta e quatro anos, também desempregado e bombeiro na Mealhada desde 1975. O adjunto de comando deste quartel também explicou: “Cada vez se recorre mais aos bombeiros que estão desempregados para se socorrer os incêndios florestais”.

Ao Jornal da Mealhada, Telma Faria, de trinta e um anos, desempregada e bombeira há seis anos na Pampilhosa, declarou: “O mês de agosto foi feito de constantes viagens para vários locais para apagar incêndios... Mês de stress, cansaço e bastante trabalho. Apesar de ter sido uma época bastante trabalhosa e cansativa para nós bombeiros, foi também muito bom sentir o apoio, carinho, reconhecimento e agradecimento dos populares. São esses gestos que nos levam a seguir em frente, a continuar a nossa missão da melhor forma, que nos põem um sorriso na cara e nos deixam orgulhosos. Pena é que, no resto do ano, este reconhecimento não exista, e muitas vezes somos ignorados, maltratados ou até esquecidos. As mortes dos nossos camaradas custam sempre, mexem muito com o nosso psicológico… mas não é por isso que descuramos a nossa missão, estamos aqui para servir os outros, com o lema ‘vida por vida’”.

Também David Santos, da mesma idade e corporação, chefe da Equipa de Intervenção Permanente e voluntário há catorze anos, onde agora é subchefe, explicou: “Este mês foi muito complicado, nomeadamente no incêndio da Serra do Caramulo onde estive mais tempo no combate ao mesmo. Infelizmente o cansaço é muito mas estamos sempre disponíveis para ajudar todos os que nos rodeiam, deixando a família para trás”. “O momento é demasiado desmotivante sabemos que há mortes de colegas que envergam a mesma farda que eu, mas contudo tenho que arranjar força para continuar a minha missão para que a população tenha sempre muito orgulho e respeito por todo o nosso trabalho. Muitas das vezes eu costumo dizer que os meus colegas que já partiram de uma forma ou de outra já cumpriram a sua missão, mas eu vou continuar a minha até que as forças me vençam”, concluiu o jovem bombeiro.

Para Nuno João “a visibilidade dos bombeiros existe quando há incêndios e mortes”, mas lembra que isto acontece apenas durante “três meses”. “As missões das corporações são muito mais do que isto”, garantiu.



Concelho da Mealhada “sobrevive” com bombeiros voluntários



Ao nosso jornal houve população que nos questionou sobre a diferença de bombeiros profissionais e voluntários e também aqui quisemos ser esclarecidos. “Para mim os meus Bombeiros são todos profissionais no que fazem, mas respondendo à pergunta a corporação da Pampilhosa é um corpo de bombeiros voluntário onde não existem bombeiros profissionais, que são elementos de corpos de bombeiros criados, detidos e mantidos na dependência direta de uma Câmara Municipal. O corpo de Bombeiros da Pampilhosa é constituído por Homens e Mulheres todos voluntários, dedicando o seu tempo livre e a maioria abdicando das suas férias e famílias para estarem ao serviço da comunidade da nossa área de actuação. Atualmente a esta corporação tem cinco bombeiros voluntários que são assalariados da associação, contratados para o serviço de rotina transporte de doentes, contamos ainda com cinco voluntários que integram a EIP que asseguram o socorro das 9h às 18 horas, dois voluntários das 18h às 21 horas e cinco voluntários das 21h às 9 horas”, explicou a comandante da corporação da Pampilhosa.

Também Nuno Canilho, presidente da direção dos Bombeiros da Mealhada, declarou: “Desde o dia 1 de junho e até 30 de setembro, durante vinte e quatro horas, temos Equipas de Combate a Incêndios, que são pagos pela Autoridade Nacional de Proteção Civil. A estes juntam-se também as EIP, constituídas por cinco elementos, que estão sempre cá no verão e que são custeadas pela Câmara Municipal da Mealhada e pela Autoridade Nacional de Proteção Civil. Na prática somos uma corporação de bombeiros voluntários que ainda presta os serviços de INEM -  Instituto Nacional de Emergência Médica - e de Transporte de Doentes e aqui sim temos nove funcionários, que também são bombeiros, ou seja, eles cumprem os seus horários de trabalho e ainda dão mais”. “Temos cinquenta e seis bombeiros voluntários, destes catorze são também funcionários desta casa, onde para além dos seus horários de trabalho, dão ainda mais quando são necessários”, enfatizou o dirigente. “É preciso dizer-se que estes homens que fazem disto profissão, não conseguiam fazer face a todas as solicitações, se não existissem os voluntários”, acrescentou Nuno João, que ainda informou: “É obrigatório que os bombeiros voluntários cumpram 210 horas de trabalho, pelo menos, bem como setenta horas de formação”.

Existe algum seguro para os bombeiros? “Todos os bombeiros voluntários têm um seguro que, por determinação da lei, é pago pela Câmara Municipal”, explicou Nuno Canilho, que lamentou “o facto do valor mínimo do seguro ser insuficiente em caso de invalidez ou de alguém que sofra queimadoras e precise de muitos tratamento, por exemplo”.



População aderiu em massa a campanha criada em rede social



“Agradecimento aos Soldados da Paz” foi o nome de um grupo criado na rede social Facebook que apelou os portugueses a contribuírem, com um euro cada, nas corporações dos Bombeiros Voluntários das suas áreas de residência. A iniciativa foi levada a cabo no passado dia 31 de agosto.

Sobre esta campanha, o presidente da direção dos Bombeiros da Mealhada garantiu “ter havia muita adesão”. “Foram centenas de pessoas que vieram ao nosso quartel, não só a 31 de agosto, mas também nos dias seguintes, e tivemos um resultado de 909 euros. Nem todos deram um euro, houve pessoas que deram bem mais. Este dinheiro vai ser investido em equipamento de proteção individual”, acrescentou o dirigente, que ainda explicou: “Para além disso houve pessoas que vieram trazer bens alimentares que foram essenciais para os nosso bombeiros, principalmente no incêndio do Caramulo, que foi muito intenso e onde houve bombeiros que passaram muitas horas sem comer. A determinada altura, apercebemo-nos disso e quando os nossos carros saíam já levavam mantimentos”. Para além de dádivas anónimas e de populares, foram algumas as empresa que se associaram na ajuda, tais como, os restaurantes “O Castiço”, “Octávio dos Leitões”, “Pedro dos Leitões” e “Celso dos Leitões”, também o café Doce Mel e a loja Multiópticas.

“Embora a nossa população só tenha tido conhecimento através do noticiário, uma vez que é uma população na maioria idosa, a afluência foi notável, e isso verificou-se pelo número de pessoas que se deslocaram ao nosso quartel para fazer o seu donativo. No que diz respeito aos valores ainda não posso adiantar nenhum valor em concreto, uma vez que ainda há pessoas a deslocaram-se ao nosso quartel para fazerem o seu donativo.

Contudo queria demonstrar, desta forma, o nosso agradecimento com a população, que em tempos difíceis como este que estamos atualmente a atravessar, respondeu ao nosso apelo na colaboração a nível logístico com a entrega de enlatados, tais como atum, salsichas, refeições enlatadas, ou seja, a chamada ‘ração de combate’. A intenção deste tipo de alimentos era aquando da nossa deslocação para outros distritos, com a missão de ajudar outros colegas de outras corporações, no combate a incêndios, levarmos este tipo de alimentos de modo a colmatarmos algumas lacunas a nível logístico. Com a entrega deste tipo de alimentos conseguimos assim superar algumas dificuldades encontradas aquando das nossas deslocações. O nosso muito obrigado a todos os que nos ajudaram!”, terminou Ana Paula Ramos.

“Recebemos de algumas candidaturas autárquicas palavras de apreço e de solidariedade nesta fase. É fundamental para uma associação como esta saber que as candidaturas olham para os bombeiros com atenção e que na prática estão preocupados connosco”, concluiu Nuno Canilho.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada no quinzenário Jornal da mealhada de 11 de setembro de 2013.

1 comentário:

Unknown disse...

Estes homens são dignos do nosso apreço o ano inteiro, e n só nestas alturas.