terça-feira, 9 de outubro de 2012

...Parkour na Mealhada...



"É uma filosofia de vida que, sem pensar, toda a gente pratica no dia-a-dia"

Já encontrou jovens a fazer acrobacias e saltos em parques e urbanizações da cidade da Mealhada? Não são aprendizes de saltimbancos mas praticantes de parkour, um desporto radical urbano, criado há cerca de dezoitos anos e que há dois anos chegou a Portugal. Na Mealhada são seis os praticantes da modalidade: João Portela, David Breda, João Luís, Jean Marques, Rui Duarte e André Dinis.
O Jornal da Mealhada foi no seu encalço e, para perceber o objectivo deste tipo de desporto, conversou com dois deles, David Breda e João Luís, de quinze anos, que praticam parkour há um cerca de um ano.
“Descobri esta modalidade através do filme ‘Yamakasi’. Depois, eu e o meu grupo de amigos, fomos a um sítio na Internet sobre parkour e começámos a experimentar alguns exercícios”, afirmou David Breda. “O sítio tem imensas informações desde vídeos até fóruns onde se podem marcar encontros e onde se ensinam os movimentos”.
Estes traceurs, termo dado aos praticantes de parkour, olham para os obstáculos da rua de maneira diferente dos comuns transeuntes. “Olhamos para eles como uma via para praticar parkour”, declararam.
O objectivo essencial do parkour consiste em saltar do ponto A para o ponto B, utilizando apenas o corpo. “Temos de ter agilidade. Por exemplo, uma pessoa que tenha força, mas não tenha técnica, não o consegue fazer. No fundo, o parkour acaba por ser uma filosofia de vida que toda a gente pratica, sem pensar, no dia-a-dia. Quando se salta uma poça de água, saltamos do ponto A para o ponto B, da forma mais rápida e fluida possível. Isto é parkour”, explicou David Breda.
No que diz respeito ao vestuário usado neste desporto David Breda afirmou: “É o mesmo que para ginástica: sapatilhas e um fato-de-treino. Umas luvas podem também ser úteis em alguns exercícios”. A alimentação também foi outro dos pontos em que, segundo nos confessaram, ambos os traceurs passaram a ter mais cuidado.
A boa forma física, a técnica, a concentração e a dedicação, são alguns requisitos necessários aos praticantes de parkour. “Para muitos é um desporto perigoso mas exige, acima de tudo, responsabilidade. Normalmente, quem começa quer logo fazer os exercícios mais complicados, como saltar telhados. Isso é perigoso, se feito sem prática e sem treino”, disse David Breda. João Luís acrescentou: “Devemos ser muito conscientes. Mesmo quem já tem alguma técnica e prática pode magoar-se. Já estive parado um mês porque fracturei uma costela”.
Nesta modalidade não existe competição e pode ser praticada em qualquer lado, basta que existam alguns obstáculos. Na Mealhada os locais preferidos pelos traceurs são a estação de caminhos-de-ferro, a urbanização da Quinta da Nora, a zona desportiva e as imediações da capela de Sant’Ana, da Igreja paroquial, do quartel dos Bombeiros. “Corremos estes locais todos de uma só vez. Às vezes paramos num deles para treinar alguns exercícios”, declararam os desportistas.
 “É um desporto com muita beleza”, declaram os traceurs mealhadenses que demonstraram três dos saltos mais praticados no parkour. “Temos o monkey, que é passar um obstáculo usando os braços e passando as pernas entre os braços na saída do obstáculo. Há também o pk roll, que é o rolamento usado para dissipar o impacto. E ainda o cat leap, que é um pulo com a recepção do salto feita com as mãos”, explicaram aos repórteres do Jornal da Mealhada.
Em relação à aceitação das pessoas, David Breda afirmou: “Nunca fomos abordados na rua, para tentarem saber o que é parkour ou o que é que estamos a fazer”. “Algumas pessoas pensam que estamos a estragar as coisas e não colocam a hipótese de estarmos a praticar um desporto”, acrescentou João Luís.

 Mónica Sofia Lopes

Reportagem publicada na edição impressa do Jornal da Mealhada de 4 de abril de 2007.

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