quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

..."Vela pode ter originado incêndio no Convento de Santa Cruz"...

A investigação sobre o incidente que causou a perda da obra “Virgem do Leite” de Joséfa de Óbidos no Convento de Santa Cruz do Bussaco foi inconclusiva, afastando, no entanto, a hipótese de roubo ou curto-circuito. Os técnicos da Fundação Bussaco irão agora proceder a uma limpeza e reabilitação do espaço. “Serão utilizadas as ‘nossas’ verbas com a colaboração da Câmara Municipal da Mealhada, não podendo contudo quantificar com precisão o valor de materiais e mão de obra, mas será uma obra a realizar no ano de 2015”, garantiu, ao Jornal da Mealhada, António Gravato, presidente da Fundação da Mata do Bussaco.
Foi na véspera de Natal de 2013 que um incêndio na capela da “Virgem do Leite” do Convento de Santa Cruz do Bussaco provocou a perda da obra de Josefa de Óbidos, também conhecida como “A Sagrada Família”, datada de 1664 e um dos mais emblemáticos valores patrimoniais existentes neste espaço religioso. “A Sagrada Família pintada para os Carmelitas Descalços do Bussaco é um tema saído da experiência e maturidade artística de Josefa de Óbidos que seria retomado, em 1672, no painel retabular (alusivo ao Sagrado) realizado para a série do extinto Convento de Carmelitas Descalças de Cascais. De um a outro vai a distância de um tratamento intimista de uma piedade controlada no Bussaco e de um sentido de maior teatralidade em Cascais”, lê-se num comunicado de imprensa da Fundação Bussaco.
“A investigação, que incluiu pertinentes exames laboratoriais de amostras removidas pela Policia Judiciária no local do incidente, concluiu que de facto foram identificados pigmentos de pintura contextualizados do século XVII, identificando-se pigmento branco de chumbo (usado nesse período) e ocre. Recordamos que a pintura estava assinada pela autora e era datada do ano 1664. Segundo o documento de arquivamento do processo, não foi possível identificar um eventual agente concreto tendo sido mesmo avançada a provável causa do incêndio a uma vela que terá reacendido, ficando assim colocada de parte a hipótese de curto-circuito. Esta obra de arte em contexto museológico era alvo de devoção por parte da população que deixava ex-votos, fotografias e velas junto a tela. A Fundação Mata do Bussaco tem já um plano de reabilitação da área afetada, que se iniciou com a limpeza do alçado do transepto do lado do evangelho da igreja do Convento de Santa Cruz do Bussaco”, acrescenta o mesmo documento.

Quem foi Josefa de Óbidos?

“Josefa de Óbidos detém um papel de indiscutível relevância no panorama da pintura portuguesa do século XVII. Com uma personalidade artística muito marcante e de traços reconhecíveis, a pintora de temas religiosos, naturezas-mortas ou retratos navega entre a atração das referências marcadamente andaluzas, o academismo provinciano da designada escola de Óbidos e o contributo dos pintores portugueses da primeira metade desse século”.

Convento “oferece” novas atrações aos turistas

Apesar da Capela da “Virgem do Leite” estar encerrada desde a “tragédia”, que ocorreu em dezembro de 2013, houve outros “investimentos” por parte da Fundação Bussaco. “Abrimos, pela primeira vez, a Sacristia e o Altar, que está na entrada do Convento, e arranjámos todo o telhado, que ficou com muita qualidade, explicou, ao nosso jornal, António Gravato, que, na tarde do dia 13 de janeiro, esteve com Miguel Poiares Maduro, Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, numa cerimónia em Vila Nova de Poiares, tendo aproveitado a ocasião para o convidar a visitar a Mata do Bussaco.
“O próximo passo é o de abrir a Torre Sineira do Convento e tentar recriar o quarto do Duque de Wellington (responsável pelo comando das forças anglo-lusas aquando da Batalha do Bussaco) e um quarto-tipo dos Carmelitas”, concluiu o dirigente.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 937, de 21 de fevereiro de 2015.

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