segunda-feira, 1 de julho de 2013

...Declarações de António Duque sobre Leitão indignam “mealhadenses”...



“Em vez de leitão da Mealhada, muitos restaurantes estão a vender leitão da Polónia ou da Croácia. Os especialistas dizem que a carne é mais mole, gordurosa e enjoativa”. É assim que uma revista de âmbito nacional inicia uma reportagem intitulada “Leitão. Ele andou muito até à Bairrada”, onde António Duque, presidente da Confraria Gastronómica do Leitão da Bairrada declara que a carne que chega a muitos restaurantes chega a vir da Polónia por metade do preço. O assunto foi tema na última reunião pública da Câmara da Mealhada, onde Carlos Cabral, presidente da autarquia desafia António Duque a “dizer que restaurantes são estes” e que vai levar aquilo que diz serem “acusações” à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária. O Jornal da Mealhada, falou com alguns gerentes do setor da restauração que se mostram indignados com a notícia e garantem que os seus leitões vêm, maioritariamente, do concelho da Mealhada e nunca de fora de Portugal. Também ao nosso jornal, António Duque garantiu “não querer entrar polémicas” e que tudo passou “de uma mal interpretação de declarações”.
“Todas as semanas chegam à região dezenas de camiões com toneladas destes bacorinhos congelados, das espécies ‘large white’ e ‘landrace’. A origem é diversa, de Espanha à Polónia, passando pela Croácia, e as condições de produção desconhecidas. (…) A diferença em relação ao produto fresco, produzido em Portugal, é notória, garante António Duque. ‘Estes leitões são moles, insípidos, gordurosos e enjoativos’”, lê-se num dos excertos da reportagem.
Declarações que “revoltaram” o executivo camarário da Mealhada. “Acho que o artigo tem uma mixórdia de interesses. Este senhor tem uma pedra no sapato contra a Mealhada”, começou por dizer o vereador José Calhoa. Também Júlio Penetra alegou: “Ele (António Duque) está neste cargo para defender, não para atacar!”.
Para o presidente da autarquia “deve desafiar-se o senhor Duque a dizer que restaurantes são estes. Nós, Câmara, vamos pedir à Direção Geral de Veterinária informações sobre isto. Este senhor não representa nada na Mealhada”. Também Filomena Pinheiro, vice-presidente da autarquia, se mostrou “indignada” com o assunto. “Até dá a ideia que temos uma máfia na nossa zona”, declarou a autarca, que informou que já tinha remetido o artigo ao presidente do Turismo do Centro.
Preocupada estava também, Helena Rocha, gerente da Churrasqueira Rocha, um conhecido restaurante situado na cidade da Mealhada, que se dirigiu à reunião camarária. “Estas coisas têm um impacto muito grande. Os clientes vão-se agarrar ao que se escreveu! O Leitão é uma das ‘4 Maravilhas’ e está a ser atacado”, apelou.
Contactado pelo Jornal da Mealhada, Carlos Castela, gerente do restaurante “O Castiço”, explicou: “Compro o leitão vivo, mato e depois asso. Todo este processo é devidamente inspeccionado e o leitão é proveniente de algumas explorações, que podem ser de Viseu e daqui da Antes, por exemplo. O gasto do leitão é tanto que podem vir de muitos lados, mas sempre de explorações portuguesas”. Também João Paulo, do “Otávio dos Leitões” de Ventosa do Bairro, garante que o seu fornecedor “é da Antes e maior parte dos leitões são produzidos na Mealhada”.
Na reportagem podem ainda ler-se declarações de Pedro Maló, criador de porco bísaro e de raças industriais, que alegadamente afirma que sente dificuldade em escoar leitões na Mealhada. “Os restaurantes não vêem no leitão de qualidade uma mais valia. Não estão dispostos a pagar mais nem a fazer isso reflectir-se nos preços do leitão assado, na carta”, afirma no artigo. Mas para João Paulo isto é um absurdo. “Já me aconteceu pedir leitões ao senhor Maló e só me conseguir apenas dez”, garante.
Sobre o tema “leitão”, António Duque, em artigo publicado no Jornal da Bairrada de 30 de maio, já tinha escrito: “A Confraria do Leitão da Bairrada, como associação defensora da qualidade, princípios de que não abdica, é incomoda para muitos, quando põe a nu, a utilização do selo Bairrada, em situações que pouco ou nada dignificam a marca”, questionando ainda: “Como é possível defender uma marca quando existem na mesma região a Festa do Leitão à Bairrada de Águeda, a Semana do Leitão na Mealhada, o Festival do Leitão dos Covões??? Não será tudo Bairrada?? É assim que se defende uma marca??”.
Mas aquilo que os gerentes dos restaurantes mais temiam, começa a fazer-se sentir, quando na rede social Facebook de um jornal da zona Centro se lê: “Numa semana em que se soube que, afinal, os leitões para assar na Bairrada são importados do Leste, começa a Semana Gastronómica do Leitão da Boa Vista, Leiria, que, ao contrário do seu ‘mais famoso’ primo, é 100% nacional”.
Aquando do fecho na nossa edição conseguimos obter algumas declarações de António Duque. “A Confraria tem a função de alertar e defender o consumidor final, os apreciadores do leitão, assim como tem o objetivo de defender quem gasta centenas de euros na construção de um Matadouro. Há leitões que entram no país em carcaças congeladas. Na minha opinião não se come leitão hoje, como se comia há quarenta anos”, declarou António Duque, dando a sua opinião, que ainda garantiu “nunca ter feito referência à Mealhada no artigo da revista, nem a qualquer outra localidade, mas sim a uma região”. “Esta polémica foi criada por algumas declarações minhas que foram mal interpretadas, mas não as quero alimentar. A Confraria é imparcial perante qualquer Município”, concluiu ainda.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada no quinzenário Jornal da Mealhada de 26 de junho de 2013.

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