Já encontrou jovens a fazer acrobacias e saltos em parques e
urbanizações da cidade da Mealhada? Não são aprendizes de saltimbancos mas
praticantes de parkour, um desporto radical urbano, criado há cerca de dezoitos
anos e que há dois anos chegou a Portugal. Na Mealhada são seis os praticantes
da modalidade: João Portela, David Breda, João Luís, Jean Marques, Rui Duarte e
André Dinis.
O Jornal da Mealhada foi no seu encalço e, para perceber o
objectivo deste tipo de desporto, conversou com dois deles, David Breda e João
Luís, de quinze anos, que praticam parkour há um cerca de um ano.
“Descobri esta modalidade através do filme ‘Yamakasi’.
Depois, eu e o meu grupo de amigos, fomos a um sítio na Internet sobre parkour
e começámos a experimentar alguns exercícios”, afirmou David Breda. “O sítio
tem imensas informações desde vídeos até fóruns onde se podem marcar encontros
e onde se ensinam os movimentos”.
Estes traceurs, termo dado aos praticantes de parkour, olham
para os obstáculos da rua de maneira diferente dos comuns transeuntes. “Olhamos
para eles como uma via para praticar parkour”, declararam.
O objectivo essencial do parkour consiste em saltar do ponto
A para o ponto B, utilizando apenas o corpo. “Temos de ter agilidade. Por
exemplo, uma pessoa que tenha força, mas não tenha técnica, não o consegue
fazer. No fundo, o parkour acaba por ser uma filosofia de vida que toda a gente
pratica, sem pensar, no dia-a-dia. Quando se salta uma poça de água, saltamos
do ponto A para o ponto B, da forma mais rápida e fluida possível. Isto é
parkour”, explicou David Breda.
No que diz respeito ao vestuário usado neste desporto David
Breda afirmou: “É o mesmo que para ginástica: sapatilhas e um fato-de-treino.
Umas luvas podem também ser úteis em alguns exercícios”. A alimentação também
foi outro dos pontos em que, segundo nos confessaram, ambos os traceurs
passaram a ter mais cuidado.
A boa forma física, a técnica, a concentração e a dedicação,
são alguns requisitos necessários aos praticantes de parkour. “Para muitos é um
desporto perigoso mas exige, acima de tudo, responsabilidade. Normalmente, quem
começa quer logo fazer os exercícios mais complicados, como saltar telhados.
Isso é perigoso, se feito sem prática e sem treino”, disse David Breda. João
Luís acrescentou: “Devemos ser muito conscientes. Mesmo quem já tem alguma
técnica e prática pode magoar-se. Já estive parado um mês porque fracturei uma
costela”.
Nesta modalidade não existe competição e pode ser praticada
em qualquer lado, basta que existam alguns obstáculos. Na Mealhada os locais
preferidos pelos traceurs são a estação de caminhos-de-ferro, a urbanização da
Quinta da Nora, a zona desportiva e as imediações da capela de Sant’Ana, da
Igreja paroquial, do quartel dos Bombeiros. “Corremos estes locais todos de uma
só vez. Às vezes paramos num deles para treinar alguns exercícios”, declararam
os desportistas.
“É um desporto com
muita beleza”, declaram os traceurs mealhadenses que demonstraram três dos
saltos mais praticados no parkour. “Temos o monkey, que é passar um obstáculo
usando os braços e passando as pernas entre os braços na saída do obstáculo. Há
também o pk roll, que é o rolamento usado para dissipar o impacto. E ainda o
cat leap, que é um pulo com a recepção do salto feita com as mãos”, explicaram
aos repórteres do Jornal da Mealhada.
Em relação à aceitação das pessoas, David Breda afirmou:
“Nunca fomos abordados na rua, para tentarem saber o que é parkour ou o que é
que estamos a fazer”. “Algumas pessoas pensam que estamos a estragar as coisas
e não colocam a hipótese de estarmos a praticar um desporto”, acrescentou João
Luís.
Mónica Sofia Lopes
Reportagem publicada na edição impressa do Jornal da Mealhada de 4 de abril de 2007.
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