“Nós aqui temos as condições necessárias à prática e ao ensino equestre”, afirmaram Ricardo e Nuno Santos
Ricardo Santos, de vinte e seis anos de idade, e Nuno Santos,
de dezanove, filhos de João Santos, residem na
Póvoa da Mealhada, local onde têm uma quinta e onde promovem a criação e a
preparação de cavalos com vista à participação em concursos de hipismo. No
fim-de-semana de 30 de Maio e 1 de Junho, Ricardo Santos ficou em primeiro
lugar no Concurso de Saltos Nacionais – B, prova que se realizou no Centro
Hípico de Coimbra, como noticiámos na edição anterior. Esta semana a repórter
do Jornal da Mealhada foi conhecer os mealhadenses “amantes” da modalidade de
hipismo e a Quinta dos Canedos, onde treinam diariamente.
“O meu pai comprou uma égua quando eu tinha oito anos,
comecei a gostar da modalidade e comecei a treinar em Águeda. Depois passei
para a Quinta da Graciosa, em Anadia, onde fiz a minha formação, durante cerca
de quatro anos”, começou por dizer Ricardo Santos que incentivou o irmão a
praticar a modalidade desde os sete anos de idade.
A Quinta dos Canedos foi criada por João Santos há cerca de
doze anos. “No início, apenas tínhamos algumas boxes para alguns cavalos e
também só tínhamos um picadeiro. Hoje, temos um maior número de boxes e alguns
picadeiros para os cavalos poderem treinar e andar à vontade”, explicou Ricardo
Santos. O irmão, Nuno Santos acrescentou: “Os cavalos só podem ser montados aos
quatro anos de idade e até essa altura, somos nós que elaboramos um conjunto de
tarefas que visam, além de toda a domesticação do animal, também a preparação
para a fase seguinte. Quando se têm animais deste tipo, que realizam um
trabalho contínuo e de longa duração, a responsabilidade é grande. Temos que vir
aqui duas ou mais vezes por dia, pois nunca é demais um olhar atento sobre
eles”.
A média de vida de um cavalo é de vinte anos. Sobre isto,
Nuno Santos explicou: “Quando os cavalos ou éguas nascem estão, em média, meio
ano com a mãe. Até aos quatro anos de idade, realizam um trabalho que visa o
fortalecimento muscular para a partir daqui começarem a realizar um trabalho
mais específico que os leva a competir”.
Sobre os maiores cuidados a ter com animais deste porte,
Ricardo Santos afirmou: “Alguns cavalos sofrem frequentemente de cólicas
intestinais, que é um dos principais factores de mortalidade, por isso temos
que estar sempre em alerta para nos apercebermos quando isso acontece. Têm que
estar sempre limpos e secos, assim como as boxes onde eles estão”. Sobre a
alimentação diária de um cavalo, Nuno Santos garantiu: “Por norma a alimentação
está proporcionalmente ligada à carga de trabalho realizada por eles. Contudo,
em média, cada cavalo come cerca de dois a três quilos de ração e meio fardo de
palha, por dia”.
Calças brancas, camisa e gravata brancas, casaco vermelho ou
preto ou azul, botas pretas e a protecção na cabeça, denominada toque, são a
indumentária que os cavaleiros usam nos concursos da modalidade. Sobre os
concursos, Nuno Santos afirmou: “A época dos concursos começa em Janeiro e
termina em Outubro. Para se poder participar num concurso nacional, precisamos
de fazer um teste que se chama “Cela 4”. Tinha onze anos quando participei,
pela primeira vez, num concurso. Em média participamos sempre em um ou dois
concursos, por mês”. Ricardo Santos acrescentou: “Temos aqui, na nossa quinta,
um cavalo chamado Lince que, em 1997, foi o cavalo lusitano que obteve os
melhores resultados na modalidade de Saltos de Obstáculos. Daí surgiu o convite
para o apresentarmos à comunidade equestre numa feira realizada em Vila Franca
de Xira, onde se apresentavam os melhores cavalos desse ano. Este cavalo é,
também, um dos reprodutores com mais êxito, pois os seus filhos apresentam
muitas apetências para os Saltos de Obstáculos”.
Questionados sobre a paixão que têm pela modalidade e os
animais que cuidam na quinta, os jovens cavaleiros afirmaram: “Já não nos
imaginamos sem contactar diariamente com estes animais. À medida que o tempo
vai passando vamos criando objectivos e querendo sempre melhor. Isto é um
vício!”. Sobre se a quinta recebe regularmente visitas de outros cavaleiros ou
pessoas em geral, Ricardo Santos explicou: “Os concursos são a montra para
fazermos conhecimentos nesta modalidade e, normalmente, são os participantes
nesses concursos que nos visitam. Contudo, isto está aberto a todas as pessoas.
Nunca fechámos a porta a ninguém. Também já houve algumas visitas de alunos da
Escola Profissional Vasconcellos Lebre e também de participantes nas Férias
Desportivas”.
A Quinta dos Canedos pode vir a ser uma escola de hipismo,
perguntámos. “Nós aqui temos as condições necessárias à prática e ao ensino
equestre. Se as pessoas procurarem, isto pode, realmente, vir a ser uma escola
de hipismo, mas tinha que haver essa procura”, respondeu Ricardo Santos. O
cavaleiro acrescentou ainda: “Houve uma altura em que me afastei um pouco da
modalidade para estudar fora, mas quando vim para Coimbra consegui conciliar a
minha actividade com os estudos, o que sempre foi a minha prioridade. Estou a
terminar a minha formação académica em Educação Física e espero conseguir
emprego na minha área, contudo não afasto a possibilidade de colocar como
prioritária a actividade do hipismo”.
Questionados sobre os objectivos que têm para o futuro nesta
modalidade, Ricardo Santos afirmou: “Tentar evoluir é o objectivo primordial.
Isto não é um desporto fácil porque está sempre em causa a conjugação de dois
seres vivos, cavalo e cavaleiro. Eu posso estar muito bem, mas se o cavalo não
estiver, a prova não vai correr tão bem, obviamente. Mas também com a
convivência que existe entre os cavalos e os seus criadores, chegamos a um
ponto que já conseguimos perceber se um cavalo está bem ou não”. Nuno Santos
concluiu: “Uma das nossas maiores qualidades é a persistência. Trabalhamos
muito em conjunto e ajudamos a perceber os erros um do outro para ser mais
fácil corrigi-los”.
Mónica Sofia
Lopes
Trabalho publicado na edição impressa do Jornal da Mealhada de 11 de junho de 2008.
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