“A
França é só uma máquina de fazer dinheiro. Os sentimentos estão aqui em
Portugal”,
afirmou António Rodrigues.
Apesar de acontecer em várias épocas, ao
longo de todo o ano, é no mês de Agosto que a presença de emigrantes é mais
notada por todo o país. Também no concelho da Mealhada, isso se nota com mais
intensidade. A repórter do Jornal da Mealhada falou, nessa altura, com alguns
dos emigrantes, de várias freguesias do concelho, que na maioria escolheram a
França para refazerem as suas vidas. Apesar de para muitos o estrangeiro ser
uma maneira mais vantajosa de ganhar dinheiro, mas Portugal continuar a ser o
país para regressarem e usufruir desses bens, para outros, os países onde estão
são já os seus locais de eleição para residir, que não trocavam por nenhum
outro.
“Estou em Ontário, no Canadá, desde
1971. Vim a Portugal passar o mês de Agosto, mas estou desiludido porque este
país está cada vez pior. Está tudo muito mais caro e há, cada vez, menos
segurança”, começou por dizer António Santos, proveniente do lugar de Mala. António
Santos ainda acrescentou: “Lá vamos a um hospital e não pagamos nada. Aqui a
minha esposa foi duas vezes ao médico e pagámos um dinheirão, para nada”.
“Vim cá com a minha esposa passar férias.
Vivo em França há quarenta anos, com a minha família toda e quero ficar lá para
sempre. Já não quero voltar. Até tenho a minha casa em Casal Comba à venda.
Quando eu chego cá, gosto, mas não tenho saudades disto. Até a minha mãe ser
viva ainda venho cá de vez em quando, mas depois não. Há muita violência aqui”,
garantiu Júlio Romano, que já está reformado há dez anos. “É bom regressar
aqui, relembrar o nosso cantinho, mas ficar para sempre seria complicado”,
acrescentou José Almeida, da Lendiosa, que está em França há trinta e oito
anos.
“Todos
os anos venho cá desde que estou na França. Estou lá para ganhar o meu
dinheiro, mas Portugal está no meu coração a cem por cento. Em breve, venho
para ficar para sempre!”, afirmou Adelino Fidalgo, que passou cinco semanas de
férias no lugar de Mala. João Ferreira, da Pedrulha, que está na Suíça há
dezasseis anos, concordou: “Penso voltar ao meu país, até porque a minha terra
é sempre a minha terra, mas neste momento, estou lá bem. Com vinte e um anos de
idade, fui procurar uma vida melhor e encontrei”. “Gosto de lá estar, mas a França é só uma máquina de fazer
dinheiro. Os sentimentos estão aqui em Portugal”, enfatizou António Rodrigues,
da Pampilhosa, que está, há apenas dois anos, em França.
Questionados se nos países onde estão é
ensinado a língua portuguesa, António Santos, que está no Canadá, garantiu: “Os
meus filhos andaram na escola portuguesa há anos, e, hoje, andam os netos, mas
nós é que pagamos essas aulas. Antigamente, era o Governo português que pagava isso,
mas deixaram de o fazer”. “Por exemplo, o meu filho até à quarta classe estudou
numa escola portuguesa. Mas hoje em dia, onde estou já não há escola
portuguesa”, acrescentou Adelino Fidalgo, que está na França. Júlio Romano, que
também reside neste país, explicou: “Onde estou não há escolas portuguesas, mas
em minha casa falou-se sempre o português”. João Ferreira garantiu: “Temos
escolas portuguesas, em centros de convívio e em centros de catequese”. “Eu
frequentei uma escola portuguesa durante quatro anos e lá sou cabeleireira”,
afirmou Marylene Alves, filha de emigrantes provenientes do São Romão, que
nasceu em França há trinta e quatro anos.
Sobre o sentimento que os habitantes de
outros países têm de Portugal, a opinião é unânime, o clima e a gastronomia são
as características que mais os aliciam. “Os canadianos gostam muito de
Portugal, porque lá têm um clima péssimo. Também gostam muito da nossa
gastronomia”, garantiu António Santos. “Todos os franceses que conheço falam
bem de Portugal. O meu genro, por exemplo, que é francês, adora a gastronomia
portuguesa”, acrescentou Adelino Fidalgo. Também José Almeida concordou: “Os
franceses gostam muito de Portugal. Dizem que é um país muito acolhedor. O meu
médico de família, por exemplo, vem cá todos os anos de férias”.
“A imagem que eles têm de Portugal é a
de um país para passar férias. Gostam do povo português e acolhem-nos muito bem
lá. A maior parte deles preferem trabalhar com portugueses mais do que com franceses”,
ainda disse António Rodrigues, que está em França. “Sou como os franceses,
gosto de Portugal apenas para passar férias”, acrescentou Marylene Alves.
António Rodrigues, que está em França há
dois anos, foi aquele que mais sentimento de saudade nos demonstrou. “Uma das
coisas que me deixa mais saudades é a banda onde actuava, há cerca de quinze
anos, a Mini banda São Pedro, da Antes. Queria desejar-lhes boas actuações
porque tenho muitas saudades de todos eles”, lamentou.
Mónica Sofia Lopes
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