Alcides Branco e Soacorgo sem
reconhecimento de “interesse público municipal”
O presidente da Câmara Municipal
da Mealhada quer erradicar, de uma vez por todas, os maus cheiros, provocados
por duas empresas sediadas no concelho da Mealhada. O “não reconhecimento do
interesse público municipal na regularização de três estabelecimentos” (que a
requereram) foi aprovado, por unanimidade, na Assembleia Municipal da Mealhada,
que se realizou na noite do dia 28 de dezembro.
As empresas, Soacorgo (Sociedade
de Agricultura de Grupo Agro-Pecuário do Corgo), Lda. (de criação de
suínos/leitões), situada no Cardal, a Alcides Branco e C.ª Lda. (de produção de
azeite), situada na Lameira de Santa Eufémia, bem como o produtor de leite,
Manuel Lindo Cardoso, de Casal Comba, pediram, no passado mês de dezembro, o
“reconhecimento de Interesse Público Municipal nas respetivas atividades”. Uma
medida, que após criação de um decreto-lei pelo Governo, agora pode ser
decidida pelos Municípios.
“Votem contra, caso contrário
vamos cheirar a trampa de porco durante largos anos”
Mas o atual executivo camarário
deliberou, por unanimidade, o “não reconhecimento de das três” e transportou o
assunto para a Assembleia Municipal. “Caso aprovássemos este reconhecimento,
nem quero imaginar o que as pessoas que vivem no Cardal e na zona do Hospital
teriam que suportar”, começou por dizer Rui Marqueiro, presidente da autarquia,
que ainda acrescentou: “Não julgo que estas pessoas passassem a ter uma prática
ambiental correta”.
“Quando iniciámos o mandato,
fomos estudar o processo onde a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional (CCDR) garantia que os relatórios espelhavam que tudo estava dentro da
legalidade. Mas quando vamos ver esses relatórios, deparamo-nos que são feitos
por empresas contratadas pelo empresário (no caso da Alcides Branco)”,
continuou o edil, que frisou, contudo, “que ninguém está contra as empresas”.
“Estamos contra a forma como trabalham e as más práticas ambientais”, garante o
presidente da Câmara da Mealhada.
“Estamos certos da importância da
Soacorgo na fileira do leitão, mas não podemos passar uma declaração de
utilidade pública, porque quando começaram tinham cento e trinta e oito suínos
e hoje têm mil e novecentos. Desde 1992 que constroem coisas ilegalmente”,
informou Marqueiro, que ainda acrescentou: “Se a decisão dependesse de mim, já
tinham levado com um processo judicial como foi com a Alcides Branco”.
Para o edil, “a melhor maneira de
se defender os munícipes é votar contra este reconhecimento, caso contrário
vamos cheirar a trampa de porco durante largos anos”. “Não quero que a empresa
feche, mas não podemos colocar uma passadeira vermelha a tudo o que lhes dá na
cabeça de fazer”, concluiu referindo-se ao caso da Soacorgo, que por estar
ligada à criação de suínos, o cheiro provenientes de dejetos torna-se muitas
vezes insuportável na cidade da Mealhada.
“Para poupar trinta postos de
trabalho, posso fazer perder trezentos”
Com a empresa Alcides Branco,
Marqueiro garante que “o ataque municipal vai mais avançado”. “Estamos com o
caso em Tribunal e o senhor empresário, mesmo assim, a única coisa que faz é
incumprir”, afirmou o edil, que relembrou que a criação da Comissão Eventual de
Acompanhamento da empresa, que é constituída por um conjunto de elementos
nomeados pela Câmara da Mealhada, à segunda interpelação/denuncia de libertação
de fumo e mau cheiro, fruto da má laboração da empresa, tem que informar o
Tribunal. “A senhora juíza vai ter que interpelar com a Providencia Cautelar, o
que levará ao encerramento da empresa”, explicou Marqueiro.
Claudemiro Semedo, presidente da
Junta de Freguesia do Luso e um dos membros da Comissão, garantiu, na mesma
reunião, que essa medida poderá estar para breve, “uma vez que houve denúncia
com verificação no local, por parte de todos os elementos da comissão, do mau
cheiro a 23 e 28 de dezembro. “Esta semana chegarão à Câmara duas atas com a
nossa deliberação”, acrescentou o autarca.
O edil informou ainda que “a
empresa esteve parada nos meses de julho e de agosto”, conforme pedido da
autarquia, por serem meses de afluência turística no Luso e Bussaco, “mas agora
está em força e a queimar todos os dias”. “É um cheiro nauseabundo a baganha
por culpa deste senhor empresário, que não cumpre com coisa nenhuma e ainda
convence algumas pessoas de que o presidente da Câmara o persegue!”, continua o
autarca, que ainda vai mais longe: “Se alguém permitir que aquela fábrica
continue a laborar assim, vamos destruir a vila dom Luso. Para poupar trinta
postos de trabalho (os da fábrica), posso fazer perder trezentos (ligados ao
turismo)”.
Rui Marqueiro insiste que a
solução para o problema era simples. “A fábrica pode adquirir equipamentos que
acabam com os gases e cheiros, mas para isso tem que gastar dinheiro!”.
O discurso do presidente, muitas
vezes questionado, nestes dois pontos, pelos deputados da coligação “Juntos
pelo Concelho da Mealhada” e CDU, terminou com uma preocupação: “No próximo dia
14 de janeiro, o Luso voltará acolher o estágio de uma seleção chinesa (Sub 20
de futebol) e contra a minha vontade deveríamos alertar a empresa para não
laborar nesses dias”.
Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 962, de 6 de janeiro de 2016.
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