“‘Amor à camisola’ não pode
significar que o GDM é um clube de ‘coitadinhos’”
Chama-se Luís Simões, tem
quarenta e dois anos, é licenciado em desporto e tem duas décadas de vida
ligadas ao futebol. Foi treinador do Anadia Futebol Clube, do Sport Clube Alba,
do Recreio Desportivo de Águeda e do Futebol Clube da Pampilhosa. Foi ainda
diretor-adjunto do Futebol Clube de Penafiel, da Associação Desportiva
Sanjoanense e do Clube Desportivo de Estarreja e selecionador distrital da
Associação de Futebol de Aveiro. Mas o seu percurso começou, em 1995, no Grupo
Desportivo da Mealhada (GDM), como treinador das equipas de Iniciados e Juvenis
e treinador-adjunto dos Seniores, tendo o clube atingido, nesse ano, a Taça da
Associação de Futebol de Aveiro e a subida de divisão. Agora, na época
desportiva de 2013-2014, a
oito jornadas do fim, o GDM “recuperou” Luís Simões e conquistou a tão desejada
manutenção de divisão da equipa sénior.
Quando os responsáveis do GDM o abordaram, a poucas jornadas do final
do campeonato, para treinar e salvar a equipa da despromoção, aceitou logo?
Recebi o convite do presidente do
clube e o que mais pesou na minha decisão foi o facto de voltar a uma casa que
me viu nascer e crescer. Devo muito a “esta casa”.
O convite foi tão inesperado, como
inesperada foi a saída do treinador do Mealhada, para mim. Mas aceitei e tentei
ajudar o clube numa fase difícil.
Como encontrou a equipa, sabendo que alguns jogadores abandonaram o
campeonato a meio e o clube teve que “recorrer” à equipa de Juniores?
Uma equipa que a oito jornadas do
fim está em penúltimo lugar é sempre uma equipa fragilizada. Se juntarmos aos
maus resultados desportivos, o facto de nenhum jogador receber nada, a nível
monetário, a motivação começa a escassear. Ora, tudo isto levou mesmo a que
alguns abandonassem “o barco”.
Mas quando eu “peguei” na equipa,
a oito jornadas do fim, tive que deixar o passado lá atrás. Unimos esforços
entre jogadores, treinadores e dirigentes e recorremos aos Juniores, que vieram
provar que a formação do GDM tem cada vez mais qualidade.
E estes jogadores muito mérito
tiveram, pois houve fins-de-semana, em que ao sábado jogavam pelos Juniores e
ao domingo pelos Seniores.
Depois de terem conseguido o objetivo da continuidade na primeira
divisão distrital vai continuar a ser o treinador do GDM na época 2014-2015?
Eu e direção, na pessoa do
presidente Luís Oliveira, temos conversado e à partida vamos continuar a lutar
por esta causa.
Porquê?
Porque fui convidado, porque
gosto de estar nos clubes onde me sinta bem, porque é a continuação de um
trabalho numa casa que me viu “nascer” e porque julgo que posso ajudar o clube.
Tenciona reforçar o plantel?
O GDM não paga a ninguém e, por
isso, tem que fazer um apelo utilizando outros argumentos, tais como, as
condições de trabalho, que passam pela existência de dois bons campos; as
condições materiais; e um grande espírito de motivação, diário, em torno do
clube para que os jogadores se sintam bem na Mealhada.
Claro que todos sabemos que é
difícil recrutar jogadores com o espírito do “amor à camisola”, que é aliás o
lema do GDM. Um lema que não pode significar que este é um clube de
“coitadinhos”, mas sim o de um clube que tem objetivos a cumprir, que tem que
ganhar!
Comenta-se que, para além de treinador da equipa principal, será o
cordenador de todas as equipas do clube. É verdade?
A minha ligação ao GDM, neste
momento, é como treinador da equipa sénior.
Quando está previsto o início dos treinos?
Iniciamos a semana de treinos a
11 de agosto, com abertura das oficinas para jogadores que possam vir à
experiência mostrar os seus valores.
No sábado, dia 16 de agosto,
realiza-se o primeiro treino de início de época com apresentação da equipa.
Pensa em fazer um campeonato sem o sobressalto da época que findou?
Sabemos à partida que estamos em
desvantagem em relação às outras equipas, por motivos económicos, como já
referi. Mas, por outro lado, esta pode ser a grande motivação. Somos uma equipa
personalizada e que, ao mesmo tempo, pode ser competitiva.
É nosso objetivo, obviamente,
fazer um campeonato sem sobressaltos.
Quer deixar alguma mensagem aos sócios e, principalmente, aos
treinadores de bancada?
Os sócios, simpatizantes e
adeptos são os primeiros a querer ganhar e “nós”, deste lado, estamos nos
treinos e nos jogos a lutar para que as coisas corram bem, mas isso nem sempre implica
que hajam vitórias e é precisamente nos momentos menos bons que o apoio é
necessário.
Da nossa parte tudo, mesmo tudo,
será feito para que sejam atingidos os objetivos. Acredito que, este ano, vai
ser um desafio muito grande para mim enquanto treinador!
E quais são os objetivos?
A manutenção na primeira divisão
distrital, que é uma autêntica terceira divisão nacional. O facto de o GDM
conseguir competir com estas equipas já é um facto relevante.
Estes jogadores são uns campeões
porque não é fácil jogar “por amor à camisola”. Eles treinam de inverno, à
chuva, a horas tardias, têm despesas de deslocação e nada recebem em troca,
como já referi. Não é fácil!
Entrevista de Afonso Simões e Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 924, de 9 de julho de 2014.
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