Nas últimas semanas, as
corporações de bombeiros, a nível nacional, fizeram noticia em toda a
comunicação social, devido ao empenho que tiveram em combater os fogos
florestais e pelo falecimento de oito bombeiros (número atualizado em 8 de
setembro) ao serviço voluntário nos incêndios. Do “nosso” concelho, bombeiros
das corporações da Mealhada e da Pampilhosa fizeram parte das centenas de
homens e mulheres que viveram dias de intensa dedicação, especialmente, no
incêndio do Caramulo, o mais grave até agora neste verão e onde houve sessenta
por cento de área ardida. Fomos conhecer a voz, na primeira pessoa, de quem “dá
a vida pela vida”.
Dedicação, esforço, altruísmo e muito espírito de voluntariado foi o que moveu os bombeiros do concelho da Mealhada a darem tudo pelo combate ao fogo na Serra do Caramulo. “A Pampilhosa esteve presente de 12 a 28 de agosto, mas propriamente nas localidades de Sernancelhe, Silvares, Feitalinho e Guardão (distrito de Viseu). Nestes teatros de operações estiverem um auto comando, um carro de combate a incêndios com uma equipa de cinco elementos e um autotanque, com uma equipa de dois elementos, sendo os elementos das equipas substituídos a cada vinte e quatro horas”, começou por dizer Ana Paula Ramos, comandante dos Bombeiros da Pampilhosa, que acrescentou: “É de salientar que quando este incêndio da Serra do Caramulo invadiu o distrito de Aveiro, mais propriamente o concelho de Águeda, os Bombeiros da Pampilhosa estiveram presentes com quatro carros, sendo um deles de combate a incêndios florestais com uma equipa de cinco elementos, um autotanque com uma equipa de dois elementos, um carro de combate a incêndios urbanos (para fazer prevenção a habitações existentes em diversas aldeias na serra) com uma equipa de cinco elementos e o carro de comando com a comandante da Pampilhosa”.
Nuno Antunes João, adjunto de
comando dos Bombeiros da Mealhada, também declarou, ao Jornal da Mealhada, que chegou
a ter “dezanove homens e quatro viaturas, acompanhados pelo adjunto e segundo
comandante, no incêndio do Caramulo, durante duas semanas seguidas em agosto, que
abrangeu os distritos de Aveiro e Viseu. É muito para uma corporação. Estivemos
empenhados nos principais incêndios que houve no país e os nossos bombeiros
tiveram sempre uma resposta positiva”.
Concelho da Mealhada teve sempre
os meios garantidos
Apesar disto, Nuno João garante:
“Nunca descurámos a nossa zona de intervenção. Tivemos sempre cá os meios
necessários no caso de serem precisos”. Também Ana Paula Ramos defendeu esta
ideia, que causou algumas dúvidas na população nos últimos dias. “Apesar das
solicitações ao corpo de Bombeiros da Pampilhosa ter sido elevada, quero esclarecer
que nunca foi desguarnecida a proteção e socorro na nossa área de atuação, que
é da minha inteira responsabilidade, tendo sido assegurado todas as ocorrências
por elementos que voluntariamente se deslocaram para o quartel, sem ser
necessário tocar a sirene ou serem chamados através de telemóvel, estando
prontos a responder a qualquer ocorrência que fosse necessária, sendo fiéis à
nossa população e estando sempre prontos a intervir em qualquer situação”,
explicou.
Para o adjunto de comando da
corporação da Mealhada é necessário fazer-se um agradecimento “às entidades
patronais que dispensaram os seus funcionários nestes dias para servirem a
população mais do que uma vez. Foi um grande apoio”.
A decorrer a Fase Charlie até dia
30 de setembro (com inicio a 1 de julho), a fase de maior alerta das corporações
na altura de verão, que balanço já se pode fazer? A esta questão a comandante
da corporação da Pampilhosa, respondeu: “Que não há Bombeiros como os Bombeiros
portugueses”. E continuou: “Ainda é cedo para fazer o balanço desta fase. Os
incêndios florestais têm assumido em Portugal uma proporção devastadora,
contudo é necessário valorizar o trabalho de risco dos nossos bombeiros que
estiveram presentes em teatros de operações em condições extremamente adversas
do ponto de vista climatérico e emocional. Foram estes homens/mulheres, que
impediram que muitas das populações perdessem irremediavelmente tudo o que
tinham, que viveram emoções fortes, continuando a fazer frente ao fogo mesmo
com as lágrimas nos olhos e com o coração apertado, depois de terem recebido a
notícia da morte dos colegas que se encontravam no mesmo teatro de operações e
a lutar pela mesma causa. Mesmo com toda esta mistura de sentimentos não
desistiram, sabendo assim, continuar a sua missão com profissionalismo, quando
era os sentimentos de perda que falavam mais alto do que todo o resto…. Aos
meus bombeiros um obrigado”.
E durante todas estas semanas, as
corporações não tiveram só cuidado com os seus homens, mas também com as
viaturas que estiveram ao serviço e que tão necessárias são. “Houve viaturas
nossas que estiveram durante uma semana ao serviço e isso trouxe-lhes um grande
desgaste”, continuou Nuno João. “É lógico que depois de um mês de incêndios
intenso o desgaste do pessoal e veículos é notório. Os carros, também eles vão
acusando algum desgaste o que leva a que tenha de haver uma
manutenção/reparação extra, a qual já acende um valor elevado nesta época
florestal. Quero salientar e demonstrar o meu reconhecimento com a direção da
corporação da Pampilhosa que tudo fez para que os nossos carros ficassem
operacionais num curto espaço de tempo, para que a nossa missão fosse bem
sucedida estando aptos a responder com prontidão a todas as ocorrências que
chegaram até nós”, acrescentou Ana Paula Ramos.
“As mortes são revoltantes, mas
não nos desmotivam”
E como se sentem os bombeiros que
combatem intensamente as chamas e ainda têm que gerir os sentimentos pelo facto
de verem colegas a morrer? Falámos com quatro bombeiros da Mealhada e
Pampilhosa que estiveram em serviço voluntário no incêndio do Caramulo. “Há uma
determinada altura em que sentimos cansaço, mas temos sempre vontade de
socorrer e estamos sempre disponíveis para auxiliar”, afirmou Gonçalo Jorge, de
vinte e três anos, desempregado, bombeiro na Mealhada há cinco anos, que acrescentou:
“As mortes são revoltantes, mas não nos desmotivam”. “Temos que seguir em
frente… alguém tem que fazer este serviço e nós escolhemos fazê-lo”,
acrescentou António Almeida, de cinquenta e quatro anos, também desempregado e
bombeiro na Mealhada desde 1975. O adjunto de comando deste quartel também
explicou: “Cada vez se recorre mais aos bombeiros que estão desempregados para
se socorrer os incêndios florestais”.
Ao Jornal da Mealhada, Telma
Faria, de trinta e um anos, desempregada e bombeira há seis anos na Pampilhosa,
declarou: “O mês de agosto foi feito de constantes viagens para vários locais
para apagar incêndios... Mês de stress, cansaço e bastante trabalho. Apesar de
ter sido uma época bastante trabalhosa e cansativa para nós bombeiros, foi também
muito bom sentir o apoio, carinho, reconhecimento e agradecimento dos
populares. São esses gestos que nos levam a seguir em frente, a continuar a
nossa missão da melhor forma, que nos põem um sorriso na cara e nos deixam
orgulhosos. Pena é que, no resto do ano, este reconhecimento não exista, e
muitas vezes somos ignorados, maltratados ou até esquecidos. As mortes dos
nossos camaradas custam sempre, mexem muito com o nosso psicológico… mas não é
por isso que descuramos a nossa missão, estamos aqui para servir os outros, com
o lema ‘vida por vida’”.
Também David Santos, da mesma
idade e corporação, chefe da Equipa de Intervenção Permanente e voluntário há
catorze anos, onde agora é subchefe, explicou: “Este mês foi muito complicado, nomeadamente
no incêndio da Serra do Caramulo onde estive mais tempo no combate ao mesmo.
Infelizmente o cansaço é muito mas estamos sempre disponíveis para ajudar todos
os que nos rodeiam, deixando a família para trás”. “O momento é demasiado
desmotivante sabemos que há mortes de colegas que envergam a mesma farda que
eu, mas contudo tenho que arranjar força para continuar a minha missão para que
a população tenha sempre muito orgulho e respeito por todo o nosso trabalho.
Muitas das vezes eu costumo dizer que os meus colegas que já partiram de uma
forma ou de outra já cumpriram a sua missão, mas eu vou continuar a minha até
que as forças me vençam”, concluiu o jovem bombeiro.
Para Nuno João “a visibilidade
dos bombeiros existe quando há incêndios e mortes”, mas lembra que isto acontece
apenas durante “três meses”. “As missões das corporações são muito mais do que
isto”, garantiu.
Concelho da Mealhada “sobrevive”
com bombeiros voluntários
Ao nosso jornal houve população
que nos questionou sobre a diferença de bombeiros profissionais e voluntários e
também aqui quisemos ser esclarecidos. “Para mim os meus Bombeiros são todos
profissionais no que fazem, mas respondendo à pergunta a corporação da
Pampilhosa é um corpo de bombeiros voluntário onde não existem bombeiros
profissionais, que são elementos de corpos de bombeiros criados, detidos e
mantidos na dependência direta de uma Câmara Municipal. O corpo de Bombeiros da
Pampilhosa é constituído por Homens e Mulheres todos voluntários, dedicando o
seu tempo livre e a maioria abdicando das suas férias e famílias para estarem
ao serviço da comunidade da nossa área de actuação. Atualmente a esta
corporação tem cinco bombeiros voluntários que são assalariados da associação,
contratados para o serviço de rotina transporte de doentes, contamos ainda com
cinco voluntários que integram a EIP que asseguram o socorro das 9h às 18
horas, dois voluntários das 18h às 21 horas e cinco voluntários das 21h às 9
horas”, explicou a comandante da corporação da Pampilhosa.
Também Nuno Canilho, presidente
da direção dos Bombeiros da Mealhada, declarou: “Desde o dia 1 de junho e até
30 de setembro, durante vinte e quatro horas, temos Equipas de Combate a
Incêndios, que são pagos pela Autoridade Nacional de Proteção Civil. A estes
juntam-se também as EIP, constituídas por cinco elementos, que estão sempre cá
no verão e que são custeadas pela Câmara Municipal da Mealhada e pela
Autoridade Nacional de Proteção Civil. Na prática somos uma corporação de
bombeiros voluntários que ainda presta os serviços de INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica - e de
Transporte de Doentes e aqui sim temos nove funcionários, que também são
bombeiros, ou seja, eles cumprem os seus horários de trabalho e ainda dão
mais”. “Temos cinquenta e seis bombeiros voluntários, destes catorze são também
funcionários desta casa, onde para além dos seus horários de trabalho, dão
ainda mais quando são necessários”, enfatizou o dirigente. “É preciso dizer-se
que estes homens que fazem disto profissão, não conseguiam fazer face a todas
as solicitações, se não existissem os voluntários”, acrescentou Nuno João, que
ainda informou: “É obrigatório que os bombeiros voluntários cumpram 210 horas
de trabalho, pelo menos, bem como setenta horas de formação”.
Existe algum seguro para os
bombeiros? “Todos os bombeiros voluntários têm um seguro que, por determinação
da lei, é pago pela Câmara Municipal”, explicou Nuno Canilho, que lamentou “o
facto do valor mínimo do seguro ser insuficiente em caso de invalidez ou de
alguém que sofra queimadoras e precise de muitos tratamento, por exemplo”.
População aderiu em massa a
campanha criada em rede social
“Agradecimento aos Soldados da
Paz” foi o nome de um grupo criado na rede social Facebook que apelou os
portugueses a contribuírem, com um euro cada, nas corporações dos Bombeiros
Voluntários das suas áreas de residência. A iniciativa foi levada a cabo no passado
dia 31 de agosto.
Sobre esta campanha, o presidente
da direção dos Bombeiros da Mealhada garantiu “ter havia muita adesão”. “Foram
centenas de pessoas que vieram ao nosso quartel, não só a 31 de agosto, mas
também nos dias seguintes, e tivemos um resultado de 909 euros. Nem todos deram
um euro, houve pessoas que deram bem mais. Este dinheiro vai ser investido em
equipamento de proteção individual”, acrescentou o dirigente, que ainda
explicou: “Para além disso houve pessoas que vieram trazer bens alimentares que
foram essenciais para os nosso bombeiros, principalmente no incêndio do
Caramulo, que foi muito intenso e onde houve bombeiros que passaram muitas
horas sem comer. A determinada altura, apercebemo-nos disso e quando os nossos
carros saíam já levavam mantimentos”. Para além de dádivas anónimas e de
populares, foram algumas as empresa que se associaram na ajuda, tais como, os
restaurantes “O Castiço”, “Octávio dos Leitões”, “Pedro dos Leitões” e “Celso
dos Leitões”, também o café Doce Mel e a loja Multiópticas.
“Embora a nossa população só
tenha tido conhecimento através do noticiário, uma vez que é uma população na
maioria idosa, a afluência foi notável, e isso verificou-se pelo número de
pessoas que se deslocaram ao nosso quartel para fazer o seu donativo. No que
diz respeito aos valores ainda não posso adiantar nenhum valor em concreto, uma
vez que ainda há pessoas a deslocaram-se ao nosso quartel para fazerem o seu
donativo.
Contudo queria demonstrar, desta
forma, o nosso agradecimento com a população, que em tempos difíceis como este
que estamos atualmente a atravessar, respondeu ao nosso apelo na colaboração a
nível logístico com a entrega de enlatados, tais como atum, salsichas,
refeições enlatadas, ou seja, a chamada ‘ração de combate’. A intenção deste
tipo de alimentos era aquando da nossa deslocação para outros distritos, com a
missão de ajudar outros colegas de outras corporações, no combate a incêndios,
levarmos este tipo de alimentos de modo a colmatarmos algumas lacunas a nível
logístico. Com a entrega deste tipo de alimentos conseguimos assim superar
algumas dificuldades encontradas aquando das nossas deslocações. O nosso muito
obrigado a todos os que nos ajudaram!”, terminou Ana Paula Ramos.
“Recebemos de algumas candidaturas
autárquicas palavras de apreço e de solidariedade nesta fase. É fundamental
para uma associação como esta saber que as candidaturas olham para os bombeiros
com atenção e que na prática estão preocupados connosco”, concluiu Nuno
Canilho.
Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada no quinzenário Jornal da mealhada de 11 de setembro de 2013.
1 comentário:
Estes homens são dignos do nosso apreço o ano inteiro, e n só nestas alturas.
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