Governo garante reabilitar ferrovia, no
dia em que as autarquias tomam posição
Foi numa sessão pública (e simbólica) que
os municípios e entidades integrantes da Comunidade Intermunicipal da Região de
Coimbra (CIM-RC) divulgaram a sua posição, favorável, sobre a requalificação da
ferrovia na região Centro, mais concretamente na Linha da Beira Alta,
contrapondo a construção de uma nova linha entre Aveiro e Salamanca. O ato, que
decorreu na Estação de Mortágua, na manhã da passada segunda-feira, foi
complementado, nessa mesma tarde, em Castelo Branco, com João Azevedo,
presidente do Conselho Regional, a assumir que “o Governo vai requalificar a
Linha da Beira Alta e eletrificar a da Beira Baixa”, indo já avançar com uma candidatura.
Batiam as 10 horas do dia 15 de fevereiro,
quando uma comitiva de jornalistas, presidentes de Câmaras Municipais e
dirigentes de entidades comerciais e industriais se encontraram na Estação de
Coimbra B. A viagem estava estipulada para, poucos minutos depois, seguir de
comboio até Mortágua, contudo, o mau tempo, que se fez sentir no passado fim de
semana, tornou a linha intransitável em alguns troços, tendo a viagem tido
inicio de autocarro. O destino foi a Estação de Mortágua.
Já no local, João Ataíde, presidente da
CIM-RC, começou o seu discurso declarando que a entidade que dirige “solicitou
um parecer ao professor Manuel Tão, doutorado em Economia de Transportes pelo
Instituto Superior de Transportes Leedes, solicitando-lhe a análise custo/beneficio
relativa à requalificação da Linha da Beira Alta versus a construção de um novo
corredor Aveiro-Vilar Formoso”.
“Este parecer é categórico quanto é a
inexequibilidade atual da construção de uma nova linha Aveiro – Vilar Formoso,
por múltiplas razões, financeiras (orçadas em mais de 2,5 mil milhões de
euros), falta de enquadramento orçamental e falta de alinhamento com os planos
sectoriais aprovados para o setor dos transportes, nomeadamente o Plano
Estratégico dos Transportes e Infraestruturas 3+”, declarou João Ataíde, que
garantiu: “A melhoria da atual linha da Beira Alta tem um custo orçamentado de
menos de um terço do valor da construção de uma nova linha, que representa o
dobro do trabalho e do investimento, ao passo que, além de mais avançada no
domínio da técnica, a requalificação da Linha da Beira Alta inclui soluções que
permitem no futuro a mudança da bitola (distância entre carris) ibérica para a
europeia”.
O presidente da CIM-RC enfatizou ainda que
“a solução encontrada, e que está contemplada no PETI 3+, prevê intervir em
mais de metade da Linha da Beira Alta, entre a Pampilhosa e Vilar Formoso”,
acrescentando que “deve ser cumprido o que está definido, a bem do
desenvolvimento da região e daquilo que o país exige”.
“A modernização da Linha da Beira Alta
prevê a construção de variantes e de troços duplos que aumentam a sua
capacidade e velocidade e, acima de tudo, contribuem para a capacidade
exportadora da região. Estamos perante uma abordagem mais económica e eficaz,
aproveitando a infraestrutura existente permitindo, desta forma, um maior e
mais eficiente, escoamento de mercadorias para a Europa, onde estamos e onde
queremos estar cada vez mais competitivos e, ao mesmo, tempo, deixando um
legado promissor, no domínio das infraestruturas, para as novas gerações”,
continuou João Ataíde, perante uma plateia de representantes das Comunidades
Intermunicipais das Beiras e Serra da Estrela e ainda Dão Lafões. “O contrário
de tudo isto, é pensar numa nova linha Aveiro – Vilar Formoso, que carece de
uma avaliação custo – beneficio, que prove que as regiões Norte e Centro
precisam de uma nova linha férrea de ligação a Espanha”, acrescentou.
O presidente da CIM-RC garantiu ainda: “A
Linha da Beira Alta dispõe, hoje, de ‘canal horário’ mais do que suficiente
para a logística (em 2015 circulavam três serviços diários internacionais de
mercadorias em cada sentido, entre a Pampilhosa e Vilar Formoso), não existindo
igualmente fata de capacidade no troço de quarenta quilómetros entre o Porto de
Aveiro e Pampilhosa, na Linha do Norte. E, não esqueçamos, a reabilitação da
Linha da Beira Alta permitirá uma possibilidade de implementação mais rápida,
dispensando Estudos de Consultoria aprofundados, Estudos de Impacto Ambiental,
Estudos de Projeto, Execuções de Projeto a partir do zero, para além de obras
complexas, podendo arrastar-se todas estas fases, para um hipotético corredor
Aveiro-Salamanca, em quase três décadas”.
Acerca do problema das dimensões da
bitola, cuja espanhola é mais pequena que a portuguesa em vinte centímetros,
João Ataíde garantiu que “não existe qualquer perspetiva, a curto prazo, da
conversão da bitola da rede ferroviária convencional em Espanha, dos atuais
1668 milímetros para 1435, afigurando-se extemporânea a questão da bitola ligada
a uma linha Aveiro – Salamanca”.
Também José Júlio Norte, presidente da
Câmara de Mortágua, manifestou a sua discórdia pela construção de uma nova
linha. “Trocar 2,5 mil milhões de euros por 800 milhões é um desperdício, num
país pobre como o nosso”, declarou o edil.
Do concelho da Mealhada estiveram
presentes, nesta ação pública, Guilherme Duarte, vice-presidente da Câmara da
Mealhada, e Carlos Pinheiro, presidente da direção da Associação Comercial e
Industrial da Bairrada e Aguieira (ACIBA).
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