Mealhada e Póvoa “fizeram” mais
de 50 mil flores
“A última semana de julho chegou
finalmente. Da Mealhada à Póvoa, as ruas alegram-se com bandeirinhas de papel
colorido e com arcadas luminosas”. As palavras são de António Breda Carvalho e
foram publicadas na edição impressa do Jornal da Mealhada, número cento e
sessenta, a 15 de julho de 1994. Este ano, e segundo as expetativas (e o
trabalho) dos munícipes, poderá voltar a ver-se as ruas enfeitadas com flores e
as colchas nas janelas. Tudo acontece no próximo domingo, 26 de julho, dia da
solenidade de Sant’Ana.
O apelo foi feito pela Santa Casa
da Misericórdia da Mealhada (instituição que organiza os festejos religiosos
das Festas em Honra de Sant’Ana) no início de junho e a população superou todas
as expetativas. O número de flores realizadas ultrapassa as cinquenta mil. “Foi
das melhores coisas que poderia ter acontecido. Eu nem como, só a fazer flores.
Ainda no domingo estive das 14h às 20 horas a colocar flores nos cordões”, declarou,
ao nosso jornal, a “mealhadense” Olga Gomes, que acrescentou: “Faço votos que
isto seja o início de um projeto que dure muitos anos. Espero que se organize
uma comissão e que haja também uma festa para ‘abanar o capacete’”.
Também Alice Lopes, residente na
cidade da Mealhada, nos confessou “estar entusiasmada” e afirma estar “a
recordar as festas enormes do passado onde havia colchas às janelas e muito
verde no chão”.
Para além de extremamente
satisfeita por “a população estar toda envolvida”, Olga Gomes enaltece o facto
“da procissão passar na Rua Dr. Costa Simões (em frente ao edifício sede da
Santa Casa da Mealhada)”. “Para mim é ouro e das melhores coisas que pode
acontecer neste dia”, enaltece.
E as flores, realizadas pela
população da Póvoa e da Mealhada desde há dois meses com papel cedido pela
Misericórdia, serão o forte dos enfeites do próximo domingo. Um dia marcado com
a missa, celebrada pelo Padre José Gonçalves, em honra da padroeira e em
memória dos diretores e irmãos da Santa Casa da Misericórdia da Mealhada já
falecidos, que terá lugar na Capela de Sant’Ana (construída há 299 anos e
cedida à Misericórdia da Mealhada a 22 de março de 1908 pela Freguesia da
Vacariça), na Póvoa da Mealhada, e que contará com os elementos do Coro da
Paróquia da Mealhada e da Filarmónica Lyra Barcoucense. Seguir-se-á, pelas 18
horas, a procissão solene acompanhada pelas irmandades da Misericórdia da
Mealhada e de São Sebastião, pelos Bombeiros Voluntários e Agrupamento de
Escuteiros da Mealhada e “abrilhantada” pela Filarmónica de Barcouço.
Tudo indica que no próximo
domingo as habitações e as montras do comércio na Póvoa e na Mealhada tenham
colchas à janela, as ruas estejam enfeitadas com flores (colocadas a partir do
dia 23 de julho) e haja verduras nas estradas, que terão a “ajuda” do trânsito
estar cortado (na tarde do dia 26 de julho)…
O aroma na hora do almoço será
praticamente idêntico em todo o lado. Para além dos negalhos e do leitão, neste
dia, o “rei” será a chanfana (ver receita na página 23), que recorda os tempos
em que as “cabras” vinham ao centro para que a população escolhesse a que mais
lhe agradava. “Uma semana antes dos festejos, chegavam rebanhos de cabras
trazidas pelos pastores que orgulhosos as mostravam para que as pessoas
comprassem a que melhor lhes agradasse para fazer o prato favorito e
tradicional desta festa, a ‘chanfana’. Toda a vila passava a ter um cheiro
característico deste manjar”, lê-se no artigo de Corália Cerveira, publicado na
página quatro desta edição do Jornal da Mealhada.
E nos próximos anos, talvez
possamos ler algo idêntico ao que foi escrito no Jornal da Mealhada de 15 de
agosto de 1994: “Ainda não foi desta vez que a Mealhada ficou sem a sua festa
de Santa Ana. Sem mordomia, sem nenhuma associação que, com fins lucrativos,
assumisse a responsabilidade da sua realização, a festa, mesmo assim, fez-se.
Por um lado foram as celebrações religiosas a cargo da Misericórdia,
proprietária da Capela Santa Ana. Por outro, os festejos profanos por iniciativa
da Associação dos Bombeiros Voluntários (…)”.
E a verdade é que os festejos
religiosos continuam a estar garantidos “nas mãos” da Misericórdia da Mealhada…
Reportagem de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 950, de 22 de julho de 2015.
Fotografia de Rosário Neto
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