A fábrica Alcides Branco &
C.ª S.A., situada na Lameira de Santa Eufémia, que produz óleos alimentares (em
especial azeite), tem sido alvo de críticas, ao longo dos últimos anos, ora pelo
fumo intenso e ruído, ora pelo cheiro que emana, que é constante. No último
ano, a atividade da empresa fez-se notar com muita intensidade e a Câmara da
Mealhada não quer ser benevolente. “Não há contemplações para os
incumpridores”, garante Rui Marqueiro, presidente da autarquia.
O Jornal da Mealhada conseguiu
apurar que a “fábrica da baganha”, como é designada pelos munícipes, foi alvo
de uma inspeção técnica e o relatório provisório alega o incumprimento de
várias licenças. O assunto foi discutido na reunião pública da autarquia, que
se realizou na manhã do passado dia 11, e o executivo ficou a conhecer a
intenção de Marqueiro, que colocou o caso nas “mãos” de um advogado, que tem
“luz verde” para interpor uma ação judicial contra a empresa, se existirem
elementos para isso. “Se assim for e enquanto eu aqui estiver, o senhor Alcides
Branco não terá mais licenças para trabalhar. Não há contemplações para os
incumpridores. Já chega de benefícios de dúvida. Há vários anos que esta
fábrica nos incomoda”, afirma Marqueiro, pretendendo assim “defender os
direitos dos cidadãos”. “Não tenho dúvidas de que as populações do Luso, da
Vacariça e da Mealhada serão testemunhas da Câmara Municipal neste processo”,
declarou o edil.
Recordamos que, em 2007, a população e alguns
autarcas do concelho “uniram-se”, em prol desta causa, com uma manifestação,
que juntou centenas de pessoas. Na altura, e em comunicado ao nosso jornal,
Alcides Branco admitiu que “a atividade (da fábrica) produziu alguns malefícios
ambientais” e que, por isso, seria investido “um milhão de euros em um secador
e lavador de fumos, já em fase de montagem. Uma nova ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais - com
maior capacidade e um pavilhão para armazenagem das matérias-primas”. E tudo
isto, garantiam os técnicos, resultaria em “melhorias nos cheiros exalados”, o
que, nos dias de hoje, não se verifica.
“Nada do que foi prometido, foi
cumprido. Por isso, sou da opinião, que a solução para o problema é a
deslocalização da fábrica”, até porque, para Marqueiro, “isto pode ser o fim da
estância termal do Luso”. Também Arminda Martins, vereadora na Câmara da
Mealhada, na reunião pública da autarquia, afirmou: “Entre termos x de pessoas
a trabalhar numa fábrica e centenas ligadas ao turismo, a opção é obvia… Nos
últimos tempos, de madrugada e ao fim do dia, aquilo é horrível!”.
Num trabalho de reportagem,
publicado no Jornal da Mealhada a 18 de junho de 2008, está refletido o mau
estar de atletas e técnicos de um Campeonato Nacional de Atletismo, que se
realizou no Centro de Estágios do Luso. “Viemos de carro até aqui e quando
começamos a chegar perto da localidade temos logo que fechar os vidros porque
não se aguenta”, afirmou , nessa altura, um dos elementos do júri da prova.
Mas o discurso que lemos neste
trabalho de há seis anos não muda. “Sente-se um cheiro absolutamente
insuportável, consoante a direção do vento. Vemos um Centro de Estágios, uma
instalação desportiva anexa e pessoas a irem-se embora do Parque de Campismo
por causa disto”, descreveu-nos um residente da localidade, onde a fábrica está
instalada, que lamenta: “Realmente é um bocado estranho estarmos no ‘Céu’, no
Bussaco, a olhar cá para baixo para o ‘Inferno’".
“Inferno” que, Nuno Branco,
administrador da empresa, minoriza, alegando que “a campanha do último ano foi
muito grande, daí ter-se notado muito mais (as consequências)”. “O importante é
termos trabalho para conseguir pagar as contas!”, afirmou o dirigente, ao nosso
jornal, que ainda nos garantiu que “o fumo, por exemplo, existe há cinquenta e
cinco anos”. “Só não existia fumo quando a empresa não existia”, concluiu.
Reportagem e fotografia de Mónica Sofia Lopes publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, número 926, de 20 de agosto de 2014.
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