Tem oitenta anos, é natural da
Lameira de São Pedro (Luso) e, apesar de uma vida com condicionantes ao nível
da saúde onde sobressaem alguns AVC (Acidentes Vasculares Cerebrais), Maria
Ivone Ferreira Pedro Mendes vai expor cerca de trinta quadros, todos pintados
por si, na Escola Primária da sua “terra natal”, com o apoio da Associação
Recreativa, Desportiva e Cultural da localidade. O certame, intitulado “A Magia
das Mãos”, estará aberto ao público no domingo, dia 17 de novembro, das 14h às
18 horas.
Maria Ivone nasceu na Lameira de São Pedro a 9 de março de 1933. Quando casou, aos dezoito anos, foi para o Porto “acompanhar” o marido na sua vida profissional, cidade que os acolheu até à reforma. “Enquanto o meu pai trabalhava, a minha mãe, que estava em casa, dedicou-se às rendas e bordada espectacularmente bem”, explicou a filha da idosa, que já se encontra na Santa Casa da Misericórdia da Mealhada há cerca de dois anos, primeiro no Hospital – onde passou pelo Internamento e Cuidados Continuados – e agora no Prolongamento do Lar.
Como entra a pintura na sua
vida?, quisemos saber. “Comecei a pintar quando o meu marido faleceu”, recorda
Maria Ivone, que apesar da dificuldade em falar, quis sempre ser a própria a
dar-nos todas as respostas. “Tive uma funcionária que me aliciou a vir à
Mealhada, uma hora por semana, para ter aulas de pintura”, acrescentou.
Mas com o passar do tempo, a
apenas “uma hora” traduziu-se em duas e três tardes por semana. “Vinha na
camioneta e quando não conseguia vir neste transporte, vinha de táxi, mas tinha
que vir!”, contou Maria da Luz, proprietária de uma loja de artes decorativas
na cidade da Mealhada e formadora na área. “Ganhei uma grande amizade pela
Maria da Luz”, interrompeu Maria Ivone que, percebemos no local, onde agora
reside, ser muito acarinhada por todos.
“Quando chegou à minha loja já
tinha tido um AVC há dezasseis anos, em 1995, mas estava muito bem, sem lesões.
O pior foi quando teve um no final de 2011”, explicou a formadora. “Fiquei uma
desgraça. Fiquei sem andar e sem falar. Tive que fazer muita fisioterapia, mas
mesmo assim, neste momento, não ando”, lamentou Maria Ivone, que apesar de tudo
manteve “sempre a cabeça muito sã”. “O médico, o doutor Nelson (do Hospital da
Misericórdia da Mealhada), disse para eu pintar, depois de ver os riscos que eu
fazia nos papéis que me davam. Ele é que me fez pintar pois dizia que eu não
era igual a muitas pessoas que têm AVC e param as suas vidas por completo! Foi
também ele que sugeriu a exposição”, confessou-nos a “artista”.
“A dona Maria Ivone é caso quase
único. É uma lição de vida constantemente e maravilhosa. Luta muito pelo que
quer. Tem uma extraordinária garra e luta interior e uma generosidade enorme.
Dedica-se muito aos outros”, elogiou a formadora Maria da Luz. A filha, Maria
Odete, confirmou que sempre foi assim, “o que nem sempre foi bom”. “Houve
alturas em que precisou estar quieta, devido aos problemas de saúde, e ninguém
a conseguia parar!”, explicou.
Quando falámos com Maria Ivone,
fomos encontrá-la a pintar caixinhas, que gosta de oferecer, contudo, a sua
exposição incidirá sobre quadros que pinta com um dedo e a palma da mão
esquerda, uma vez que a direita está imobilizada. “Não estou nada ansiosa”,
afiançou Maria Ivone, depois de questionada sobre a exposição, e ainda afirmou:
“Depois quero ler esta notícia no Jornal da Mealhada. Eu sou assinante e leio
todas as suas notícias, apesar de me custar virar páginas, leio todinho!”.
Texto de Mónica Sofia Lopes publicado no quinzenário Jornal da Mealhada, número 906, de 13 de novembro de 2013.
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