quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

...E quem não consegue subir escadas… como vai ao Registo Civil da Mealhada?...



“Subo as escadas íngremes, abro uma porta, tiro uma senha e aguardo pela minha vez. Vou tirar o meu primeiro Cartão de Cidadão… Enquanto espero, olho para o televisor que vai publicitando as vantagens do Serviço. Lê-se que grávidas e pessoas com mobilidade reduzida têm prioridade… Há tempo, enquanto se espera, para pensar de que forma é que uma pessoa em cadeiras de roda conseguirá subir as escadas e ser atendida como todos os outros munícipes”. Este poderá ser o pensamento de qualquer cidadão que se dirija ao Registo Civil da Mealhada…. O Jornal da Mealhada procurou respostas e obteve-as. Sabemos agora que o Instituto dos Registos e do Notariado tem “em curso um processo de procura de novas instalações”, numa parceria com a Câmara da Mealhada, que Rui Marqueiro, seu presidente, (ainda) desconhece.
O Registo Civil da Mealhada, na Rua Capitão Cabral, na cidade da Mealhada, situa-se num primeiro andar, sem elevador, com acesso através de escadas, o que se pode tornar num pesadelo para quem queira - nomeadamente, pessoas com mobilidade reduzida, com dificuldades motoras, grávidas ou idosos – adquirir o Cartão de Cidadão, por exemplo.
O Jornal da Mealhada contactou o Instituto dos Registos e do Notariado que, através de um e-mail, nos garantiu estar “a desenvolver com a Câmara Municipal da Mealhada uma solução que permitirá brevemente o funcionamento dos serviços de registo num único local em instalações funcionais e dotadas das acessibilidades necessárias aos cidadãos com mobilidade condicionada ou reduzida e o atendimento personalizado de cidadãos e empresas”. “A implementação da referida solução está pendente da formalização de protocolo com a Câmara Municipal, que está a ser diligenciado”, lê-se no mesmo documento. Mas Rui Marqueiro desconhece “totalmente” a situação e ainda questiona retoricamente: “Agora nós é que resolvemos os problemas do Estado?”.
Segundo podemos apurar, em algumas situações, os utentes deste serviço na Mealhada recorrem à Conservatória do Registo Civil em Anadia ou à Loja do Cidadão em Cantanhede. Mas, sobre esta situação, o Instituto dos Registos e do Notariado informa que “no âmbito do Cartão de Cidadão encontra-se disponibilizado equipamento portátil para recolha de dados do cidadão, pelo que, face à inacessibilidade do balcão de atendimento do Registo Civil da Mealhada, o utente poderá solicitar a realização de serviço externo na sua habitação, a titulo gratuito, estando ainda a ser ponderada a possibilidade do serviço de Cartão de Cidadão poder vir a ser disponibilizado no balcão de atendimento do Registo Predial da Mealhada”.
Em regra, este serviço externo tem um custo de quarenta euros, acrescido de taxas, contudo, num despacho de dezembro de 2009, estipulou-se “que nos casos em que os serviços não disponham de acessibilidades especiais, obstando a que o pedido de emissão de cartão de cidadão se efetue nos balcões de atendimento, como é o caso dos serviços em apreço, conduzindo o recurso ao serviço externo, não é cobrada a taxa respectiva, uma vez comprovada a divergência impeditiva de ‘entrada’ no serviço pretendido”.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes, publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, de 22 de janeiro de 2014.
Fotografia de Rodrigo Mortágua.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

...“Selas” no Luso encerrou...



A “Pensão Astória” no Luso – que agregava bar, restaurante e pensão -, mais conhecida por “Selas” encerrou portas. O fim de duas décadas de contrato, o novo conceito dado à vila termal e a “crise” ditaram o fim de um espaço mítico no concelho da Mealhada.
“Tinha um contrato de vinte anos, que acabava em 2016, mas foi-me dito que não seria renovado, uma vez que querem aqui construir um hotel”, começou por dizer Conceição Selas, gerente da “Pensão Astória”, que agora encerrou portas. “Em 2013 o negócio foi fraco, em 2014 será um ano de obras na vila do Luso e não seria em 2015 que iria recuperar o prejuízo”, acrescentou a “dona São”, como é tratada pelos clientes, que agora vai abrir um negócio, na mesma área, na cidade da Mealhada, “tudo indica no inicio do mês de fevereiro”.
Apesar desta mudança, Conceição Selas lamenta ter assistido “ao decair da vila do Luso, nos últimos anos, principalmente a partir de 2006”. “A crise é uma forte razão, mas a mudança que houve na estratégia das Termas foi muito grande. As obras que lá fizeram não foram de requalificação, mas alteraram completamente o conceito das Termas”, disse “dona São”, referindo-se à Malo Clinic Termas Luso, um espaço criado em parceria pela Malo Clinic e a Sociedade da Água de Luso. “As pessoas de idade, reformados, que usufruíam do espaço, já não se identificam com ele”, acrescenta Conceição Selas, que passou a ouvir dos clientes que as Termas do Luso “estão escuras e apertadas”.


“Antigamente, o Luso importava mão-de-obra. Hoje exporta”

Para Nuno Alegre, gerente do “Hotel Alegre” criado em 1931, este encerramento “é um sinal negativo”. “Em vinte anos já encerraram os Hotéis dos Banhos e Serra e as Pensões das Termas, Portugal, Avenida e Luso. O último hotel a ser construído no Luso foi o ‘Éden’, há trinta anos, e em vinte já fecharam estes todos”, explicou o jovem empresário. “Acho que há um desinteresse pelo Luso, por quem de direito, e um envelhecimento do tecido empresarial. O Luso antigamente importava mão-de-obra. Hoje exporta, porque aqui ninguém tem trabalho!”, acrescenta.
Quando questionado sobre as melhorias que a Malo Clinic Termas Luso trouxe à vila, Nuno Alegre garante ser “positiva”, mas “não suficiente”. “O Spa, infelizmente é pequeno e as Termas também, comparativamente com outras. Isto não trouxe novidade nenhuma, até porque, hoje em dia, já qualquer hotel tem um Spa”.
“Temos que nos reinventar e não esperar que os turistas caiam do céu aos trambolhões”, continua Nuno Alegre, que dá exemplos do que pode melhorar: “Se um turista alemão precisar de um penso e for à Farmácia e ninguém o entender, ele volta para o seu país, vai dizer que o Luso é muito lindo, mas que ninguém o percebeu. Por outro lado, basta olhar para as placas indicativas do Luso, que têm mais de doze anos…”.

Reportagem de Mónica Sofia Lopes, publicada na edição impressa do quinzenário Jornal da Mealhada, de 22 de janeiro de 2014.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

...O que Distingue um Amigo Verdadeiro...

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta.

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c. 

Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser. 


Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

...Cântico Negro, de José Régio...

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

...Busto do “Padre Abílio” inaugurado a 9 de fevereiro de 2014...



O busto do “Padre Abílio” será inaugurado a 9 de fevereiro de 2014 e tudo indica que contará com a presença do Monsenhor Leal Pedrosa, Vigário-geral da Diocese de Coimbra. A “obra” será colocada junto à Igreja Paroquial da Mealhada, está a ser feita por um escultor da Antes e construída na empresa Viapolis, em Ponte de Viadores (freguesia de Casal Comba). “Prevê-se que tenha um custo aproximado de sete mil euros e será pago com o valor que sobrou do resultado de um peditório feito pela população, em 2007, para compra da pedra tumular do homenageado e ainda de uma campanha feita pelos mealhadenses Pedro Costa e Nuno Canilho”, disse, ao Jornal da Mealhada, um dos impulsionadores da feitora do busto.
Padre Abílio Duarte Simões faleceu a 7 de fevereiro de 2007, no quintal da sua casa em Ribeirinho – Gagos, na freguesia de Cumieira, em Penela, sucumbido com um problema do foro cardíaco. Foi sepultado, aos sessenta e um anos, no Cemitério da Mealhada.
“Padre Abílio”, como era conhecido, foi pároco mais de trinta e dois anos nas freguesias da Mealhada e da Vacariça. Foi professor no ensino oficial das disciplinas de Latim, Grego e Português. Foi ainda jornalista, sócio e diretor do Jornal da Mealhada.
“Nasceu a 19 de agosto de 1945 no lugar de Ribeirinho (Gagos), da freguesia da Cumieira, concelho de Penela. Tendo frequentado o seminário da Figueira da Foz, onde entrou com onze anos, licenciou-se em Teologia, com catorze valores, no de Coimbra, onde entrou aos quinze anos. A ordenação sacerdotal ocorreu em 1 de agosto de 1970. Exerceu as funções de professor no seminário da Figueira da Foz, a partir de 1968. De 1969 a 1971 foi coadjutor na paróquia de Cantanhede. Durante a Guerra do Ultramar esteve em Angola, para onde foi em setembro de 1971, como capelão militar. Teve conhecimento de que seria pároco de Vacariça e Mealhada quando estava no sul deste território. Regressou à metrópole em maio de 1974. Em 13 de outubro desse ano, tomou posse do lugar de pároco nas freguesias da Vacariça e Mealhada, sucedendo a Alberto Lopes Gil”, lê-se num texto do Jornal da Mealhada, de 14 de fevereiro de 2007.

Obra foi “comprada” com o resultado de uma campanha de angariação de fundos

Dois anos após a sua morte, um grupo cidadãos da freguesia da Mealhada começou a promover uma campanha de angariação de fundos para o busto do “Padre Abílio”. “Trata-se do que entendemos ser uma justa homenagem a um homem que, independentemente das funções religiosas que desempenhou mostrou sempre total disponibilidade aos outros e grande dedicação à Mealhada”, declarou Nuno Castela Canilho, um dos elementos do referido grupo, em fevereiro de 2009.
Apesar de o dinheiro para o busto estar assegurado, haverá ainda mais despesas, nomeadamente, para a cerimónia de inauguração e o arranjo à volta do local onde será colocado. Quem ainda se quiser associar à causa pode fazê-lo através do NIB 0045 3400 40257723319 24.

Texto de Mónica Sofia Lopes publicado no quinzenário Jornal da Mealhada, número 910, de 8 de janeiro de 2014.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

...eu ter o sonho de ser jornalista de investigação...

Não me interessa minimamente o tema em questão.... apenas dou os parabéns a quem fez esta reportagem... Parabéns Pedro Coelho...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014